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Camisa 13 do Barcelona é conquistense

MARCEL MERGUIZO/ENVIADO ESPECIAL A BARCELONA

“Na ‘peluqueria’ faço de tudo. Unha, cabelo, o que precisar”, assim, misturando português com espanhol, Láila dos Reis, 24, fala do trabalho que lhe dá mais dinheiro em Barcelona, no salão de beleza, com o tio cabeleireiro.
O ofício que lhe dá menos dinheiro, porém, não é menos importante. Ao contrário, é a realização de um sonho de infância: a baiana de Vitória da Conquista é a camisa 13 do Barça. “Sempre sonhei em ser jogadora de vôlei. Pensava nisso o tempo todo”, diz àFolha. “Não sou ‘peluqueira’, sou jogadora”, afirma a brasileira em um shopping da capital da Catalunha, na Espanha. A equipe de Láila é uma das 11 consideradas amadoras no Barcelona. Há uma década, aliás, era apenas um clube de vôlei com o mesmo nome do time famoso pelo futebol. Hoje, é Barça. E mais: pela primeira vez na história do clube, o time de vôlei feminino chegou aos playoffs da Superliga. Nesta sexta, disputa a partida decisiva da semifinal do torneio nacional contra o Haro Rioja. “No time faço tudo também. Já fui levantadora, líbero, ponta, do que precisar eu jogo. Mas, na verdade, gosto mesmo é de ser oposta”, diz a única estrangeira do time.

Láila nasceu em Vitória da Conquista, mas logo aos cinco anos mudou-se com a família para São Paulo, onde jogou vôlei até os 17, chegando a ser convidada a atuar na seleção paulista e, diz, ser sondada para jogar na equipe do Osasco. Divulgação

Láila dos Reis entra em partida do time de vôlei do Barcelona
Uma cirurgia no ligamento do joelho esquerdo, entretanto, interrompeu o sonho.
“No Brasil tem muita jogadora. Um tempo parada e já perde a chance”. Foi, então, visitar familiares em Barcelona. E as férias fizeram-na retomar o sonho de jogar.
Passou por equipes menores da Espanha até chegar ao Barça. Mas, naquela época, vestir azul-grená era atuar na terceira divisão do país. Ela permaneceu, subiu para a segunda divisão e, nesta temporada, pela primeira vez, chegou com o clube na Superliga, a elite nacional da modalidade.
“Mesmo assim não se compara a jogar na Itália ou no Brasil. Há uns anos até tínhamos dinheiro e havia jogadoras famosas como Fofão, Jaqueline e outras da seleção brasileira na Espanha. Agora, com a crise, quase todas equipes perderam patrocínio”.
As modalidades amadoras no Barcelona também sofreram. No clube catalão, apenas futebol, basquete, futsal, handebol e hóquei sobre patins são profissionais.
“Houve até ameaça de greve há alguns anos. O time masculino de vôlei deixou de jogar um campeonato europeu após ser campeão espanhol por falta de verba. Mas o Barça ainda é dos poucos que consegue sobreviver à crise”, diz a jogadora que sonha estudar designer de moda.
“Vamos ver se vou deixar o vôlei antes de o vôlei me deixar”, diz, com sorriso largo no rosto, enquanto conta como é ir treinar de bicicleta, subindo o Montjuic, colina onde fica o ginásio no qual a seleção masculina de vôlei do Brasil ganhou a medalha de ouro na Olimpíada de 1992.
“Na minha cidade, essa deve ser a maior conquista de um atleta”, reflete. “Eu jogo no Barcelona”.