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A força da mulher – Revista Perfil edição nº 20

A dura carga da mulher

Talvez eu devesse ter escrito este artigo no dia internacional da mulher, mas na ocasião não tive inspiração. Aliás, não sei se me faltou inspiração ou indignação para escrevê-lo no mês de março. A verdade é que estou consternada com a dureza com a qual a mulher é tratada na sociedade desde que nasce. Embora em alguns casos mais veladamente, o preconceito permeia nossa existência desde o berço. Filho homem parece ser sinal de benção, enquanto que filha mulher… sabe-se lá o que pode vir a ser. Já pequenina a mulher arrebanha olhares maliciosos e desperta desejos nos homens com distúrbios na sexualidade. Antes mesmo de ingressar no ensino fundamental, passa a ser alvo da violência física e sexual. A menarca traz consigo o incômodo de sangrar todo o mês até a menopausa, isso acompanhado de cefaleias, dores abdominais, náuseas e mudanças de humor características da tensão pré-menstrual.

Espera-se tudo da mulher. Bom comportamento, boa índole, disposição para o trabalho e para a maternidade, fidelidade, organização, eficiência, romantismo, meiguice, moderação, prudência, discrição, sensualidade, obediência, resignação e fé, além de outras características que as mulheres sabem bem quais são porque também lhes são exigidas. Ora, mas que exagero; quem exige isso? A sociedade como um todo; os pais (e mães), os filhos (e filhas), os homens em geral e as próprias mulheres.

Vocês já perceberam como tudo recai nas costas das mulheres? Se houve gravidez antes do casamento a mulher não se preveniu e armou para casar; se abandonou o filho por falta de condições para criá-lo é desnaturada; se ele se envolve com drogas não soube educá-lo; se o mesmo cai no crime faltou disciplina em casa; se o marido trai é porque não lhe deu atenção; se trai o marido é porque não presta; se é abandonada pelo companheiro alguma coisa de errado fez; se pede a separação destruiu um lar… Enfim, a lista é imensa, e a culpa sempre das mulheres. As mães culpam as filhas, as filhas culpam as mães, mulheres culpam outras mulheres e ensinam seus filhos a culpá-las também. Todo o pecado do mundo recai sobre a mulher. É o preço a ser pago ao se nascer na condição feminina.

Somente quando conseguirmos entender que a mulher é gente, teremos condições de assimilar que ela também erra, peca, falha… sente raiva, medo, repulsa, solidão… comete crimes, pratica obscenidades e nem por isso é pior que o homem. Na realidade ambos são semelhantes em muitos pontos, mas a mulher é julgada com maior rigor e severidade. A mulher confere o perdão, mas quando necessita dele, este costuma lhe ser negado, principalmente por outras mulheres. Algozes de si mesmas, as mulheres carregam uma dura carga sobre os ombros, e ainda têm muito que aprender; principalmente respeitar suas limitações, deixando de aceitar imposições ou querer abraçar o mundo.

 

Maria Regina Canhos (e.mail: contato@mariaregina.com.br) é escritora.      Acesse e divulgue o site da autora: www.mariaregina.com.br.