Arquivo Público Municipal: memória de Vitória da Conquista
Além de oferecer um diversificado acervo à população, o Arquivo desenvolve atividades a fim de resgatar a memória que ainda não foi registrada
Diariamente, o Arquivo Público Municipal recebe a visita de pessoas interessadas no conteúdo de seu acervo, que envolve 270 estantes responsáveis por abrigar caixas contendo aproximadamente 3 milhões de folhas de papel. Se colocadas uma ao lado da outra, todas as caixas ocupariam uma linha com cerca de dez quilômetros de extensão. Nesse material podem ser encontrados documentos oficiais diversos, como guias, circulares, ofícios, leis, decretos e portarias. Nos 500 livros de registro, disponíveis para consulta, estão publicadas demandas administrativas da Prefeitura e da Câmara Municipal. O documento mais antigo é uma ata lavrada pela Câmara, datada de 1850.
O espaço, mantido pela Prefeitura, por meio da Secretaria Municipal de Administração, dispõe ainda de 30 mil fotografias e 300 quadros de negativos, além de 800 mapas e plantas de construção civil. Para quem aprecia curiosidades, também há 50 cartazes de eventos – inclusive um da primeira micareta realizada em Vitória da Conquista, em 1989. Edições dos inúmeros jornais que existiram na cidade, desde o início do século 20, também estão lá.
A maioria dos visitantes que vão ao Arquivo, na Rua do Triunfo, logo acima da Praça da Bandeira, está em busca de documentos para fins de herança, aposentadoria e registro de posse de imóveis. No entanto, também é maciça a presença de pesquisadores motivados por fins acadêmicos. A procura pelo acervo do Arquivo foi impulsionada pela existência de cursos de graduação, como o de História, e de pós-graduação na área de Memória – em ambos os casos, oferecidos pela Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia (Uesb). “Todos esses cursos geram demandas dentro do Arquivo”, observa o coordenador do Arquivo Público Municipal, Afonso Silvestre.
‘Ao vivo e em cores’– O público visitante também inclui estudantes que ainda não chegaram ao ensino superior. Como os de uma turma do programa Jovem Aprendiz, oferecido pelo Serviço Nacional de Aprendizagem Comercial (Senac). Eles participaram de uma aula de campo no Arquivo na tarde da última sexta-feira, 11, como atividade da disciplina Técnicas de Arquivo e Protocolo. “É imprescindível a visita por ser uma disciplina muito distante da realidade deles”, explicou a instrutora Adriana Galvão, responsável pela condução da atividade.
Segundo Adriana, a aula de campo foi suficiente para que os estudantes reavaliassem a maneira como veem o Arquivo Público. “Eles mudam a concepção quando chegam ao local e são extremamente bem recebidos por pessoas bem preparadas. É uma verdadeira aula ao vivo e em cores”, acrescentou a instrutora.
‘Parceria longa e intensa’ – Na última semana, acertou-se a mais recente etapa da parceria que envolve o Arquivo Público e a Uesb, por meio de seu Departamento de História. Graças ao estabelecimento de um acordo de cooperação técnica, o Arquivo passará a contar com a presença de três bolsistas de pesquisa da instituição. Eles utilizarão o acervo para realizar suas pesquisas, e, em contrapartida, também trabalharão no local.
As vantagens são descritas por Silvestre. “O nosso acervo precisa ser utilizado. Existem muitas informações aqui que precisam ser analisadas e interpretadas”, analisa o coordenador. “Daí a importância desses historiadores aqui dentro, para viabilizar o acesso para as demais pessoas”. O acordo também prevê o intercâmbio de informações, através do oferecimento de cursos por ambas as instituições envolvidas, além da cooperação mútua em palestras, seminários e debates. “É uma parceria que será muito longa e já está sendo bastante intensa”, afirma Silvestre.
‘Lugar de memória’ – Entre as atividades atualmente desenvolvidas pelo Arquivo, a fim de dar maior visibilidade a seu acervo e cumprir sua função social como “lugar de memória”, destacam-se os projetos “Arquivo Vivo” e “Arquivo Itinerante”. O primeiro envolve a gravação de entrevistas em vídeo, com pessoas que, no entender da equipe gestora do Arquivo, podem ser consideradas “arcabouços de memória da cidade”, como define Silvestre. Posteriormente, as memórias contidas nessas gravações serão transcritas, interpretadas e registradas por estudiosos, como instrumentos para se resgatar aspectos da memória local. “Só que a gente não entrevista apenas políticos, assessores, artistas, intelectuais ou empresários. Também entrevistamos o pedreiro, o sapateiro, o ex-presidiário. São pessoas que têm em si a memória da cidade, e ela precisa ser compartilhada”, explica o coordenador do Arquivo.
Já o “Arquivo Itinerante” consiste na produção de mostras temáticas que retratam acervos específicos, por meio de banners com textos, fotografias e outros documentos. O material será exibido em escolas do município, aliado a palestras sobre temas como memória, identidade e cultura. Recentemente, por ocasião dos 50 anos do Golpe Militar de 1964, uma mostra temática, feita pelo Arquivo, retratou fatos marcantes da forma como a quartelada ocorreu em Vitória da Conquista, como a cassação do então prefeito José Pedral e a morte do vereador Péricles Gusmão Régis numa cela do 9º Batalhão de Polícia Militar, em circunstâncias até hoje não esclarecidas.
‘Cidade privilegiada’ – Em setembro de 2013, um trabalho produzido pela equipe do Arquivo Público Municipal, sobre métodos e técnicas de conservação de acervo iconográfico, foi apresentado por Afonso Silvestre num evento acadêmico no Rio de Janeiro. Na mesma ocasião, a experiência do Arquivo de Vitória da Conquista também foi exposta diante da equipe do Conselho Nacional de Arquivos (Conarq).
Segundo Silvestre, a possibilidade de se realizar todo esse trabalho tem inteira relação com a disposição da equipe – há funcionários que trabalham ali há quinze anos – e, principalmente, com a maneira como o Governo Municipal lida com a questão da memória, em âmbito local. “Existe a visão, a capacidade de compreensão, a sensibilidade e até o respeito pelo passado. Reconhece-se a importância da memória na vida de um indivíduo, mas também na vida de uma cidade inteira. Acho isso louvável”, avalia. “Vitória da Conquista pode se considerar uma cidade privilegiada por ter um Governo Municipal que enxerga a memória dessa forma. Como historiador, eu aplaudo. É um trabalho que me dá muita alegria e prazer, e me estimula cada vez mais”, conclui. Texto e fotos: Secom PMVC