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Auto da Catingueira neste sábado, 27


O Auto da Catingueira representa uma das obras mais importantes da carreira de Elomar Figueira Mello e uma das mais significativas em termos de arte brasileira no cenário da cultura nacional. Difundido através de suas canções, que são tocadas ininterruptamente há mais de 30 anos, nunca havia sido montado em palco. Agora, no dia 27 de julhoTeatro Domus OperaLá na Casa dos Carneiros, o público poderá ver em cena teatral a riqueza e a poética de Elomar.

A direção geral e partido cênico são de Elomar, que também participa do espetáculo. A direção musical é assinada pelo Maestro João Omar.  Nesta edição, o elenco musical conta com: Miltinho Edilberto (Cantador do Nordeste), Pereira da Viola (Chico das Chagas, tropeiro), Marcelo Bernardes (flauta), Ocello Mendonça (violoncelo) e João Omar (violão) Saulo Laranjeira será o narrador. A cantora Luciana Monteiro é Dassanta.

Vitória da Conquista é a primeira cidade no Brasil a receber o Auto da catingueira depois de sua estréia, em 2011, no Palácio das Artes, em Belo Horizonte, para um público de quase 3 mil pessoas.
A primeira montagem sob Coordenação e Produção de Marcela Bertelli (DUO Informação e Cultura) e Leticia Bertelli, foi gravada ao vivo em DVD  pelo produtor Mario de Aratanha e Jeanne Duarte (Cineviola).

O projeto tem apoio financeiro do Fundo de Cultura, Secretaria do Estado da Bahia e também patrocínios e apoios locais.

Sobre o Auto

A peça original foi gravada em LP em 1983, dentro da sala de visitas do compositor, no semi-árido baiano, na mítica Casa dos Carneiros. A partir daí, e até hoje, se tornou popular pelas rádios, na voz e instrumentos de intérpretes como Mônica Salmaso, Elba Ramalho, Quinteto da Paraíba, Paulo Moura, entre outros.

Escrito em 5 atos, o Auto da Catingueira é construído em linguagem dialetal, que é mescla da expressão regional nordestina com a preservação ibérica, no sertão baiano. Narra a saga de Dassanta, pastora de cabras; de seu mundo real e mítico; e as paixões que inspirou, com sua beleza que “matava mais qui cobra de lagêdo”.

Após apresentar os personagens, o meio ambiente onde vivem, suas angústias e seus desejos, seus modos peculiares de vida, o Auto nos brinda com um surpreendente duelo pelo amor de Dassanta. No maior desafio já escrito da música brasileira, traz, em lugar das espadas e floretes das óperas européias, a disputa entre cantadores que, com suas violas, fazem um desfile memorável de mais de uma dúzia de estilos diferentes, como a parcela, o coco voltado e a tirana, gêneros quase extintos.

Para o historiador Ernani Maurílio, autor de premiada tese sobre a obra de Elomar e do texto que acompanhava a versão em disco, o autor “fez uma escolha consciente, abandonou a cultura erudita e retornou ao seu povo e à sua crença, construindo parte do seu mundo, transformando-se assim no historiador de um povo sem história, pelo menos oficial. Essas histórias são a história, recolhidas e ouvidas de feira em feira, de cantador para cantador, projetando uma realidade do passado intemporal no presente real. Na caatinga, devolve-se à palavra a dignidade perdida nos grandes centros urbanos”.

Sinopse

Dividido em 5 atos, ou cantos, o Auto da Catingueira relata o amor de Dassanta pelo tropeiro Chico das Chagas, humilde cantador da região que canta os costumes de sua terra e de seu tempo. Cada Canto fala por si: o 1º, Da Caatingueira, conta o nascimento de Dassanta. O 2º, Dos Labutos, descreve seus trabalhos de mulher. O 3º, Das Visage e das Latumia, desfila o universo do invisível e do mal assombrado que habita o imaginário da caatinga. O 4º Canto, Do Pidido, revela os desejos e vaidades de Dassanta, na partida de Chico para a cidade; e Desafio (5º Canto e último) recria a trágica disputa por seu amor entre Chico contra o ladino e experiente Cantador do Nordeste, conhecedor de todas as armas dos estilos de Cantoria. A disputa musical acontece numa festa em noite de lua cheia, e o equilíbrio entre os contedores leva os acontecimentos às últimas consequências.

Sobre o autor

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Elomar Figueira Mello tem uma das mais sólidas carreiras artísticas da música brasileira. Diversas teses de mestrado e doutorado debruçam-se na obra do compositor, aqui e no exterior. Das barrancas do Rio Gavião, na caatinga baiana, para os principais palcos do país, a música deste músico, arquiteto e fazendeiro criador de bodes é sempre esperada e ovacionada desde os anos 70. Sofistica-se a cada dia, mergulhando seu universo “sertanez” na música. O Auto da Catingueira é a primeira das 11 peças/óperas musicais de Elomar.

Elomar compôs também 11 antífonas, quatro “galopes estradeiros”, 12 peças para violão solo, uma sinfonia e três concertos para solista e orquestra. É autor de mais de 80 canções, a maioria delas já gravadas por ele e por diversos outros intérpretes de expressão nacional. Foi inspirado nele que o cartunista Henfil criou seu personagem Bode Orelhana.

Tenho uma missão a ser cumprida,“ afirma Elomar. “A tradição oral me trouxe do meu bisavô, que contou os fatos ao meu avô, que me contou e hoje eu conto para os meus filhos, que amanhã contarão para os filhos seus. Com isso é assegurada a preservação da história e dos acontecimentos. Numa sociedade tradicional, como a catingueira, a herança é oral e depositada em olhos e memórias privilegiadas. Esta é a missão do cantador.”

Mais informações: http://www.casadoscarneiros.org.br/autodacatingueira/o-espetaculo.html