Bahia caminha para 2ª colocação entre criadores de Campolina
Criadores participam da Fenagro, em Salvador (BA),com 150 cavalos em concursos de marcha e morfologia
A 34ª Semana Nacional do Cavalo Campolina, realizada recentemente, em Belo Horizonte (MG), reuniu vários criadores baianos. Na pista mais disputada da raça, representaram o Estado levando mais de 30 animais. Também foram decisivos no sucesso dos leilões, disputando os melhores lotes à venda em três remates. Essa movimentação não se deu por acaso. O Cavalo Campolina, que nasceu em Entre Rio de Minas (MG), em 1870, na época do “Brasil Império”, tem uma de suas principais vertentes na Bahia. Em número de criadores, o estado é o terceiro no ranking de criadores, sem contar que reúne um dos maiores planteis.
“A Bahia já está bem perto de alcançar a segunda colocação em número de criadores. Somos os que mais fomentam novos criadores e usuários para a raça atualmente”, diz Jorgge Libório, do Haras Vitória, que fica em Teodoro Sampaio (BA), há 110 km da capital Salvador. Ele reforça que a Bahia também é segunda colocada em volume de exposições realizadas.
Impera entre os criadores um sentimento de admiração e preocupação com a evolução do Cavalo Campolina. De acordo com o proprietário do Haras Vitória, até há alguns anos, prevalecia a valorização excessiva do conjunto de frente (cabeça, pescoço e orelhas), que não deixa ser importante, por expressar a nobreza que diferencia a raça das demais, mas faltava foco no binômio forma/função. “No passado, desejavam-se cavalos mais altivos, com pescoços bem rodado, uma cabeça mais expressiva e orelhas lançadas. Hoje, o mercado pede que avaliemos também angulações, aprumos, dorso-lombo, membros e outras mensurações importantes no desenvolvimento da marcha. Em resumo, beleza e função, hoje, exercem a mesma influência dentro da seleção”, avalia.
Com alquimia, os nordestinos deram origem a linhagens cruciais no aperfeiçoamento do Campolina: a Angelim, hoje selecionada pelo herdeiro José Fernandes; e a Santa Maria, que caminha mesmo sem sucessores diretos. A primeira é conhecida por imprimir os atributos tão cultuados. A segunda agrega o andamento desejado nas cavalgadas e provas de marcha. Criatórios de todo Brasil fizeram ou fazem uso de tal genética.
PROCURA PELA MARCHA
As demandas para o Campolina crescem no rastro da obsessão dos criadores em moldar nele um cavalo diferenciado, que atenda os mercados mais exigentes, reunindo beleza racial e marcha cômoda. Para tanto, se apoiam na genética e vão buscar genética onde quer que ela esteja. O próprio Libório, quando deu seus primeiros passos na seleção, há mais de 10 anos, rodou exposições e haras em na Bahia, Minas Gerais e no Rio de Janeiro. Hoje, de mamando a caducando, reúne no plantel 108 animais. Além dele, apenas dois haras possuem mais que uma centena de cavalos da raça na Bahia: o Haras Luanda e o Haras Pinval.
O mais imponente entre equinos marchadores é popular em Feira de Santana, Ipirá, Teodoro Sampaio, Araçás, Catu, Santa Bárbara, Pojuca, Conceição do Jacuípe, Aramari, Irará, Cruz das Almas, Coração de Maria, Santo Amaro e Alagoinhas. Este último município, talvez, seja onde ele mais cresce. Pela representatividade, recebe, há seis anos, uma exposição especializada da raça. Também é palco de um disputado leilão promovido por Jorgge Libório todos os anos.
Para Nilton Oliveira dos Anjos, do Haras Bela Vista, em Feira de Santana (BA), criador desde 2009, ainda existe enorme potencial de mercado em Vitória da Conquista, Eunápolis, Ilhéus e Barreiras. “Esses municípios concentram muitos adeptos de cavalgadas e propriedades rurais onde a composição morfofuncional do Campolina pode ser explorada para o serviço. A Bahia também é precursora de cavalos de marcha e existe aqui um interesse muito grande pela marcha picada, em especial, ideal para longas cavalgadas”, explica.
Pensando em uma aproximação mais efetiva entre o público e a raça, ele recomenda participação mais efetiva em cavalgadas e mostras como a Fenagro, que reúne milhares de pessoas, dos segmentos mais distintos. Entre 29 de novembro e 7 de dezembro, por exemplo, mais de 150 cavalos participarão de concursos de marcha e raça dentro desta feira. Também aponta as provas multirraciais, ou poeirões, como ferramentas preciosas de divulgação. “Num poeirão em Santa Bárbara, no qual fui um dos organizadores, reunimos centenas de expectadores. Ao final da competição, que contou com cerca de 70 campolinistas, muitos nos procuraram para conhecer melhor a raça ou mesmo comprar exemplares”, diz Nilton Oliveira.
BAHIANO É PIONEIRO NO AMÉRICA DO NORTE
Demandas internacionais também são realidade no Campolina, surgem especialmente no “Velho Continente”. Entretanto, o baiano Fernando Martins, que era dono de propriedades nos arredores do Morro do Chapéu (BA), abre caminho também na América do Norte. Há 12 anos, mudou-se para o México, levando um garanhão com nome de Príncipe da Chaparia Graña e outros nove cavalos.
Participando de cavalgadas, abriu oportunidades para o Campolina. Mesmo detentor do segundo maior plantel de cavalos do mundo, ficando atrás apenas da China, existiam, no México, somente cavalos de trote. “A marcha cômoda e estável, como é a do Cavalo Campolina, é desconhecida por aqui (México). Também chamou a atenção o porte mais imponente, a resistência atlética e a variedade de pelagens”, relata, ressaltando que recebeu propostas que seriam inimagináveis no Brasil.
Martins conversa com criadores de São Paulo, Rio de Janeiro e Bahia para que sejam parceiros no projeto. Sua obstinação em desenvolver o Campolina é tão grande que fundou até uma associação, a Asociación Mexicana de Criadores de Caballo Campolina, localizada em Avandaro – Valle de Bravo, que conta, neste primeiro momento, com mais quatro associados. E essa entidade internacional já nasce ambiciosa: planeja atender uma região conhecida como Baja California Norte, que reúne a maior quantidade de cavalos por metro quadrado. Também pode servir de acesso aos Estados Unidos, por fazer fronteira com a Califórnia. “É um processo de longo prazo. Estamos construindo bases sólidas para transformar o México no segundo lar da raça Campolina”, conclui.