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Caminhão de matadouro atravessa o Brasil com bois rumo à liberdade

​A ação que ficou conhecida como ‘Bois de Forquilhas’ cheg​ou ao fim n​a noite de ontem, 16, quando as últimas carretas partiram da região de Biguaçu (SC) para, finalmente, distribuir a manada em lares definitivos. Passaram quase 4 meses desde o dia 2​6​ outubro de 2016, quando  os bois foram encontrados em um terreno baldio sem pasto e água, muito debilitados e, grande parte, sendo devorados ainda vivos por urubus. Embora trate-se de crime ambiental, a Delegacia do Meio Ambiente lavou suas mãos; o que mobilizou um grupo de pessoas a decidirem pelo caso.

Ao todo, tratavam-se de 60 bovinos que receberam a comoção de ativistas independentes que buscaram através de uma liminar na justiça a guarda temporária destes animais até que o processo fosse julgado como procedente. Durante os 3 dias de resgate, somente 39 ​ animais​ foram efetivamente levados para a proteção dos ativistas; os demais não aguentaram e morreram na região – bairro conhecido como Forquilhas, na cidade de​ São José/SC. Porém,​ 7 deles não aguentaram as terríveis condições e vieram a óbito; mas para a alegria de todos, haviam vacas prenhas que deram a luz a​ ​​3​ novos bezerros que já nasceram de ventre livre, totalizando a manada dos​ ​​35 ​bois de Forquilhas. Os primeiros animais a cruzarem o Brasil num caminhão de matadouro com símbolos da liberdade.

Com respaldo da Comissão dos Direitos dos Animais de São José mais as contribuições recolhidas através de campanhas de arrecadação, os bois de Forquilhas foram tratados por 1​10 dias num lar temporário e receberam suplementação e tratamento veterinário a fim de se reabilitarem enquanto aguardavam decisão judicial​, para, só então,
poderem partir para sítios vegetarianos e Santuários que foram entrevistados pelo ‘Instituto É o Bicho’ passando por estrita análise​: infraestrutura do local; coeficiente geográfico – se os terrenos eram planos ou acidentados; a qualidade do pasto; a condição financeira dos adotantes e histórico de convivência com animais de grande porte.

O caso recebeu ampla repercussão nas redes sociais e em muitos portais da imprensa porque, curiosamente, imagina-se que ninguém abandonaria bois saudáveis à própria sorte. O episódio só evidencia o fato de que a indústria pecuária já não é mais tão lucrativa assim. Trata-se de um caso emblemático também para para a causa animal e o veganismo, já que uma boiada inteira está sendo liberta com aval da justiça.

Caminhão de matadouro atravessa o Brasil com bois rumo à liberdade

“Conseguimos configurar pela primeira vez, maus-tratos aos animais de matadouro, o que é muito difícil já que estes animais estão expostos pacificamente à todo tipo de exploração pela indústria alimentícia, vestuário e do entretenimento.” – diz a advogada do caso, Dra. Bárbara Hartmann Cardoso, presidente da Comissão dos Direitos dos Animais da OAB de São José/SC. Segundo ela, além dos problemas burocráticos, de campo e toda as tomadas de decisões envolvidas entre ativistas e a promotoria, houve também toda a chaga que os ativistas sofreram durante o período da operação, como calúnias, difamações e escárnio. Os membros da equipe tiveram conhecimento até mesmo de que existe um grupo no Whatsapp montando para denegrir a imagem dos ativistas, o qual já está sendo monitorado como crime cibernético e todas as informações colhidas a fim de se estruturar um processo em defesa da honra dos envolvidos.

Os bovinos demoraram um mês a mais do que o esperado para partir, já que, recentemente, a equipe teve problemas burocráticos para liberar os animais para os Santuários oriundos da retirada do GTA (Guia de Transporte Animal); visto que animais de grande porte precisam estar com todas as vacinas e documentação em dia para trafegar em viagens interestaduais. A boa notícia é que isso já foi resolvido: a decisão judicial foi favorável e os ativistas conseguiram a guarda definitiva dos animais no início deste mês e até o fechamento desta matéria, eles estão chegando ao seu destino: sítios vegetarianos, alguns dentro do estado de Santa Catarina e outros distribuídos nas cidades de Peruíbe e Mairiporã, em São Paulo.

Judicialmente, o caso está encerrado: um dossiê com diversas páginas relatando todo o histórico da operação, bem como a prestação de contas através de uma planilha de gastos, cópias de todos os recibos, fotos, vídeos e laudos do Cidasc (órgão respectivo ao Ministério da Pecuária de Santa Catarina) foram entregues ​oficialmente ​no dia 16/01/2017 ao Ministério Público, juntamente com o Doutor Promotor Raul de Araújo Santos Neto e autorizado pela Justiça.

Desde o começo, os ativistas deixaram claro que a operação Bois de Forquilhas era muito mais do que apenas resgate, possuindo também a incumbência de conscientização, através de vídeos e postagens que fizessem com que as pessoas pudessem conviver com os animais de abate e conhecer a doçura de cada comportamento; percebendo assim a senciência, a inteligência e amorosidade dos animais de matadouro.

Caminhão de matadouro atravessa o Brasil com bois rumo à liberdade

​Curiosamente, a operação iniciou no dia do aniversário do ativista Tiago Ribeiro e está finalizando no aniversário de sua esposa, Andréia Cavaglieri – casal que encontrou os animais e reuniu a equipe de resgate.

E para finalizar com chave de ouro, uma carreta com mais 23 bois partiu numa ação de guerrilha impressionante com uma faixa que levava os dizeres “Carga viva rumo à liberdade – porque lugar de bois não é no matadouro”. Todos os vídeos da entrega dos animais no que os ativistas apelidaram de “vivedouro” estão sendo postados pela página oficial à medida em que os animais estão chegando.​