Colegiado promove discussão sobre situação dos ostomizados
Debates foram comandados por José de Arimatéia, presidente da Comissão de Saúde e Saneamento
Ela é uma abertura artificial que se faz no abdome, por onde fezes e urinas são eliminadas e que é definitiva na grande maioria dos casos. Causa uma série de transtornos aos pacientes que, desde 2004, por portaria ministerial, são enquadrados na categoria de deficientes físicos. Segundo Adelaida Fonseca, é cada vez maior o número de ostomizados no Brasil vitimas de violência por arma de fogo e câncer. Atualmente a Bahia tem, cadastradas no Centro de Prevenção e Reabilitação da Pessoa com Deficiência (Cepred), cinco mil pessoas e atende 700. Mas é um indicador que está aquém da realidade, diz a especialista. PRECONCEITO A grande maioria dos casos decorre de tiro ou de câncer. O câncer – segunda maior causa de mortes no mundo – tem nesta variação (câncer visceral) também seu segundo maior fator de mortandade na Bahia. O predomínio é em mulheres entre 45 e 50 anos, com grande incidência de semianalfabetas e subempregadas, segundo levantamento epidemiológico realizado pelo Cepred no ano passado. São considerados fatores para a doença a hereditariedade, alimentação rica em calorias e carboidratos, álcool e fumo.
Nas mulheres, uma das graves consequências da ostomização é a abstinência sexual, uma vez que ela passa a sentir dor, frigidez e ressecamento. Nos homens ocorre disfunção erétil e impotência em 100% dos casos de câncer de reto, impondo a necessidade de prótese peniana em pacientes jovens. Além destes problemas, os ostomizadas sofrem com desordem psicológica que o uso constante das bolsas causa, além de fortes preconceitos. CONSTRANGIMENTOS “Em supermercados, por exemplo, são confundidos com ladrões”, aponta Adelaide Fonseca ao explicar que as bolsas obrigatoriamente enchem-se de ar 40 vezes ao dia e, assim, inflam na barriga dos portadores. Os seguranças supõem, então, tratar-se de roubo, situação que se dissemina para quase todos os locais públicos que precisam, também, ter banheiros adaptados para estes pacientes, com pias à altura do abdome para que as bolsas com fezes e urina possam ser retiradas para a necessária higiene.
Mas no Brasil não há, como no caso dos cadeirantes, legislação específica que obrigue aos espaços públicos estas adaptações. O resultado é que, além de todas as dificuldades que a doença lhes traz, os ostomizados ainda sofrem constrangimentos públicos. Isto, acredita Adelaide Fonseca, seria minimizado ou deixaria de existir se a sociedade estivesse satisfatoriamente informada sobre o que é a ostomização. “É uma deficiência invisível” já que as bolsas ficam sob as roupas, informa a médica, adiantando que este fato provoca novos problemas para os usuários. Como prioridade em filas, por exemplo.
Por todas estas razões, os ostomizados necessitam de atendimento multidisciplinar, o que falta na Bahia. “Não há atendimento especializado nos hospitais públicos”, nem em qualquer lugar do interior. Os prefeitos não se sensibilizam, diz a médica, que já treinou 300 enfermeiras do interior, mas nenhum município implantou serviço de atendimento ou acompanhamento. Resta, então, Salvador para atender ao Estado inteiro. E na capital há apenas dois servições públicos voltados para estes pacientes: o Cepred (que atende em consulta com profissionais das áreas de psicologia, nutrição e assistência social e fornece bolsas, equipamentos e acessórios) e o Papo – Programa de Atenção ao Paciente Ostomizado, do Hospital Aristides Maltez. Neste caso, o programa é exclusivo para pacientes de câncer e do próprio hospital e recebem apenas as bolsas.
Mas para a Associação dos Ostomizados do Estado da Bahia (AOEBA) ainda há o que reivindicar. Segundo o vice-presidente Antônio Bonfim dos Santos, o Cepred erra nas licitações porque compra bolsas coletoras em quantidade e de uma só marca. Deveria personalizar e adquirir de acordo com a preferência de cada paciente. A AOEBA quer também dinheiro para se manter e uma nova sede.