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Crônica da Semana, por Nilson Lattari: “IA, o meu personagem de 2023”

Foto de Steve Johnson na Unsplash

          O mundo, hoje, e acho que por muito tempo, vai funcionar de forma artificial. Aliás a artificialidade já está dominando os ambientes. A IA, esse novo elemento em nossas vidas, é um tipo de fake news, que também não é uma mentira, mas também não é uma verdade.

          Há programas que fazem textos, elaboram relatórios, até mesmo criam histórias. E de fato, uma história ficcional não passa de uma mentira. O interessante é que temos agora uma verdadeira fábrica de mentiras.

          O que seria mais espantoso é alguém achar que seja muito esperto porque utiliza uma inteligência artificial para, espertamente, burlar uma coisa muito profunda no ser humano que é a preguiça. O sonho é ter um robot para fazer todas as coisas que nós detestamos. E hoje em dia temos um robot para fazer, também, as coisas que passamos a detestar que são o estudo e a paciência para aprender. Aliás, por que perder tempo para aprender se tudo já está no Google, não é mesmo?

          Como a IA vai buscar as informações que as pessoas colocaram na Internet, e por sua vez a IA compila vários dados e as pessoas os vão reproduzindo na Internet, teremos um moto-contínuo que vai nos levar à BR, ou seja, a burrice real. E nos tornaremos todos uma aldeia de estúpidos e ignorantes, discutindo sobre coisas burras, todos sentados em suas cadeiras diante de uma tela de computador.

          Poderia dizer que nem seria um mundo apocalíptico, distópico ou coisa assim. Porque até um mundo nesse nível precisa passar por um processo de distopia humana, e no caso seria uma distopia robótica.

          Esse mundo apocalíptico já chegou, e em breve viveremos o mundo pós-apocalíptico que seria… bem, deveríamos perguntar à IA. E talvez nem mesmo ela saiba porque não teria de onde compilar.

          Na verdade, meu personagem é a síntese da preguiça humana.

          É um paradoxo: o homem cria uma coisa genial para reproduzir coisas burras e que nada tem a ver com a genialidade.

          Há programas que tentam distinguir o que é uma IA nos textos e o que é real. Temos o detetive investigativo da IA que nada mais é do que outra IA.

          Imagino um estudante no final do século passado que não é para ir muito longe queimando tempo e pestanas em bibliotecas atrás de informação. Ou na busca de um professor particular para prepará-lo nos exames. Ao imaginar que existiria essa ferramenta no futuro, esse estudante se julgaria um desafortunado.

          O que ele não imagina é que, justamente, essa ferramenta seria pública e usada por todos, inclusive para aquele que não gostava de estudar. Haveria um nivelamento por baixo, o que está, realmente, acontecendo.

          Fake news e IA são dois elementos que funcionam em dupla. Se ela é artificial, nada mais fake do que isso. O autor é fake, o texto é fake, a informação e conclusão são fakes. O que poderia haver de inteligente nisso?

          O que levaria você a acreditar que este texto é real? Quem realmente escreveu? Chamaríamos isso de algo inteligente?