Crônica da semana, por Nilson Lattari: “Somos tão jovens”
Somos tão jovens quando lembramos o tempo que passou, em contradição com Renato Russo. Somos tão jovens quando lembramos nas conversas de que na nossa época tudo era melhor, mais respeitosa, as pessoas se gostavam mais, o mundo era mais seguro. Estamos certos em fazer estas afirmações ou apenas repetimos nossos pais, que nos respondiam da mesma forma quando queriam fazer alguma crítica sobre os nossos estilos de vida?
Somos tão jovens, mas, ao mesmo tempo, somos tão nossos pais, repetimos romanticamente o que, porventura, não era tão seguro e romântico assim. Jovens são aqueles que procuram o discurso novo, procuram a sua identidade no mundo, buscando o novo, quando o novo nada mais é que uma pequena mudança no antigo, mas de amplo significado.
O novo nos assusta, como quando ele parte dos jovens que se lançavam pelos shoppings a praticar um rolezinho. São jovens na crítica, na busca da sua identidade? Que identidade é essa que passeia pelos centros de consumo?
Inseguros em um mundo cada vez mais inseguro, esquecemos que, jovens, usamos camisetas vermelhas, lambretas, depois o rock e os cabelos longos a passear pelas cabeças de jovens, ditos transviados, juventude rebelde, rebeldia em massa, amor livre, etc, hoje cortes com desenhos nas cabeças, danças sensuais, bebedeiras.
Nunca fomos tão jovens, refundados nas clínicas de estéticas, sob os bisturis dos médicos, com promessas mirabolantes de um retorno a um mundo passado e perdido no tempo. Temos o nosso próprio tempo, por isso dissemos: “no meu tempo, na minha época tudo era diferente”. Como diferentes eram as épocas dos nossos pais, que repetiam esse mesmo discurso, quando queriam demonstrar alguma lição, lição para jovens com cabeças vazias de velhos discursos, e prontos a aceitar as novas ideias, ideias que cada um, nas suas juventudes, vão criando e recriando.
Todos os dias relembramos o tempo que passou, que não retorna, apenas devemos ser jovens para curtir e usar o tempo que está por vir, com as mudanças, nem sempre tão novas, algumas carregadas de velhos discursos como nossos pais.
Vivemos, hoje, um paradoxo, quando ouvimos jovens, bem jovens, repetindo sem pensar as coisas velhas que tentamos esquecer, como se fosse moda falar coisas velhas achando que estão a avançar.