De quantas coisas você abriria mão para ser sempre jovem? Espaço do leitor

Por *Nilson Lattari

Photo by Andrea Riondino on Unsplash

          Uma britânica resolveu não sorrir por quarenta anos para não ter rugas.

Ela admite que valeu a pena não curtir o próprio casamento ou o nascimento da filha, em troca de um benefício futuro para não envelhecer o rosto e manter-se sempre jovem ou jovial.

          O que seria uma vida sem sorrisos? Ver passar algo engraçado, viver algo engraçado, rir a valer com os amigos, contar anedotas e, por um pequeno espaço de tempo, se alienar do mundo e, simplesmente, não curtir esses prazeres.

          Viver sem sorrir é ganhar a preocupação em não sorrir, se vigiar o tempo todo, não cometer o infeliz deslize de rir para o mundo, principalmente, quando ele ri para você.

          Ir de encontro ao pensamento de que rir é o melhor remédio.

          E se nos privássemos de viver paixões? Não se apaixonar por ninguém ou, então, refrear o instinto de declarar um “eu te amo”, na calidez de um sussurro em um ouvido perfumado, e ouvir no mesmo tom acalentado a retribuição do sentimento.

          Como seria viver uma vida gélida, sufocando sentimentos, para não sofrer no futuro, não conviver com uma decepção, não chorar, não sentir as lágrimas correndo em nossas faces como um abraço em nós mesmos, desaguar um vulcão que adormece e nos traz pesadelos? Deixar de aprender!

          Não confessar para alguém o que se sente, mesmo que o retorno não seja o esperado. Quanta coisa se vive e se vive por teimar em achar que no futuro será diferente?

          Com certeza, a britânica não conquistou rugas, mas também não conquistou terrenos, não conquistou o desconhecido, e fez da sua vida o indiferente. Perdeu-se na busca da eterna juventude e se encontrou no futuro sem histórias para contar?

          As teve, com certeza, mas muitas delas não partilhou, e para os outros era sempre aquela que não se enturmava. Como imaginar contar uma história engraçada e todos caírem na gargalhada e o seu olhar imperturbável, o semblante sereno não participar?

          Ela não se espantou com o inesperado. Teria se tornado um espanto?

*Nilson Lattari. Graduado em Literatura pela UERJ e especialização em Estudos Literários pela UFJF. Fui primeiro colocado em crônicas no Prêmio UFF de Literatura, 2011 e 2014, e terceiro colocado em contos pelo mesmo prêmio em 2009. Primeiro colocado em crônicas prêmio Darcy Ribeiro – Ribeirão Preto, 2014. Finalista em livro de contos Prêmio SESC de Literatura 2013, finalista em romance Prêmio Rio de Literatura, 2016, além de várias menções honrosas em contos, crônicas e poesias.

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