Debate em Vitória da Conquista: fiasco dos candidatos
Os dois candidatos à prefeitura de Vitória da Conquista, no Sudoeste da Bahia, participaram na noite desta sexta-feira (26) do debate promovido pela TV Sudoeste. Os candidatos Guilherme Menezes, do PT, e Herzem Gusmão, do PMDB, confrontaram propostas durante de 50 minutos. O mediador do debate foi o apresentador da emissora, o jornalista Judson Almeida.
Foram debatidos temas como combate às drogas, transporte, lazer, combate à corrupção, saúde, infraestrutura urbana, educação e agricultura familiar. Os concorrentes fizeram perguntas entre si nos três blocos do debate. No primeiro bloco, o tema foi escolhido pelos próprios participantes, já no segundo, os temas foram determinados por sorteio. No terceiro e último bloco, os temas abordados foram livres e os participantes tiveram espaço para fazer as considerações finais.
Nas considerações finais, o primeiro a falar foi o atual prefeito e candidato à reeleição, Guilherme Menezes. Ele agradeceu à TV Sudoeste pela oportunidade e pediu aos eleitores que prestem atenção às propostas do governo de cada candidato. “Quero pedir a atenção do povo de Conquista para a diferença dos dois projetos”, disse.
O candidato do PMDB Herzem Gusmão agradeceu a Deus, à família e à TV Sudoeste pelo espaço. Ele pediu a oportunidade aos eleitores e afirmou que pretende fazer um governo de paz e sem perseguições. “A cidade quer uma mudança. Conquista será uma cidade livre, vamos inaugurar um governo sem perseguição”, afirmou o candidato do PMDB.
Resultados do debate:
Enquanto algumas lideranças se preocupavam em organizar pesquisas, outras partiram para comentar sobre o debate dos dois candidatos. Naturalmente que ouviu-se de tudo sobre o assunto, mas o interessante e que é consenso de todos, a fraqueza de ambos, senão vejamos:
Guilherme ainda sente medo de microfones, tem dificuldade de falar em público e tremeu visivelmente diante das câmeras. Herzem, tem muito mais intimidade com o aparelho. Mostrou-se como o grande locutor que realmente é. No quesito perguntas, ambos demonstraram que o ranço de interioranos prevalece, apesar de, por exemplo, Guilherme ter frequentado o Congresso Nacional em Brasília, e Herzem ser um homem do rádio, vivido, com bagagem privilegiada de suas viagens naturais da própria carreira. O melhor de todos, foi o trabalho do Judson que soube comandar com maestria o debate, sem permitir que os dois candidatos se extrapolassem em suas acusações.
O telespectador assistiu a uma troca de farpas, acusações e nenhuma proposta de nenhum dos dois candidatos. Uma lástima para quem sabe o preço que representa 50 minutos do horário nobre da TV Sudoeste, seu alcance e sua capacidade de influenciar nos votos, que foi a melhor das intenções da Rede Bahia/Tv Sudoeste, como sempre cumprindo seu papel de Imprensa.
Entre os comentários considerados infelizes pelos telespectadores, e que mais chocaram a todos, foi quando Herzem Gusmão disse que o PT importa pessoal de trabalho de outras cidades brasileiras, como São Paulo, por exemplo, para ocupar cargos que deveriam ser de conquistenses. Ele se esqueceu, ou não sabe, que, exatamente neste momento da história da cidade, dois gigantes do setor imobiliário brtasileiro, a CIPASA e a ALPHAVILLE, despejam centenas de milhares de dólares na construção civil da cidade, independente do partido político que se assenta na cadeira do prefeito.
Pelo que se apresenta do histórico de Vitória da Conquista, a prosperidade da cidade não está ligada à política partidária. E sim, à coragem e à pujança exatamente desses que o radialista acha que tiveram oportunidades aqui que não foram dadas a seus compatriotas. Mas uma vez, Herzem escorregou porque a iniciativa privada sempre viu a cidade como um celeiro de oportunidades. Quem não as vê, são alguns dos próprios filhos da terra.
Ambos perderam a oportunidade gloriosa de apresentar um programa de governo convincente. Ficaram frente a frente, batendo boca e discutindo páginas viradas. Não parecia em jogo a administração do quinto maior PIB baiano.
Segundo as pesquisas publicadas neste sábado, 27, o atual prefeito Guilherme Menezes, vence as eleições em Vitória da Conquista com 53,77 dos votos válidos e Herzem aglutina 34,38%.
Uma analise do debate de ontem
Toda uma expectativa para a “grande final do campeonato”. Quem esperava que do debate de ontem na TV Sudoeste entre os candidatos a prefeito de Vitória da Conquista, Guilherme Menezes e Herzem Gusmão, decorresse algum fato espetacular capaz de mudar os rumos da eleição, por certo ficou decepcionado.
Luís Fernandes
Em um embate que deveria ser de ideias em que o tempo entre perguntas e respostas é tão curto e no qual não há como aferir as afirmações de parte a parte, incluindo números que ninguém teria como checar na hora e que tampouco alguém checará depois, o que pesa é o que as palavras não dizem.
O que é, então, que o eleitor pode extrair de um embate direto entre dois contendores que têm produzido discussões tão ácidas? A resposta é: impressões subjetivas. O que sejam, conclusões que se tiram da forma como cada contendor se insere no contexto da disputa. E eu tirei a minha.
Se eu tivesse que escolher uma frase para definir a postura de Gusmão não só no debate, mas na campanha inteira e em sua propaganda eleitoral, diria que não quero viver na Vitória da Conquista que o peemedebista pinta: a cidade de hoje, que para ele é um cemitério, para a surreal que ele pretende implantar… Poderia citar muito mais de irreal nas palavras e nas propagandas de Herzem, mas basta essa imagem para que se possa avaliar o grande erro que o derrotou no debate em questão: o projeto do VLT (Veículos Leves sobre Trilhos), que, além de mirabolante, é inviável para a nossa cidade pelo menos nos próximos quatro anos. Na proposta de Herzem, vejo, entre outras fantasias, um VLT vazio… Ele mostrou, com sua resposta, que não fez um estudo sequer sobre o assunto, nem tem projeto de viabilidade para tal… por isso se perdeu. “O Sr. não trouxe nenhuma informação sobre VLT. Primeiro: ele só é viável, e está provado, para cidades com mais de um milhão de habitantes. Segundo: cada km de VLT implantado são 60 milhões de reais. O Sr. imagina que do Miro Cairo à Uesb (10 km) seriam 600 milhões de reais, o que significa mais de um ano e meio de arrecadação da PMVC. Terceiro: a demanda exigida pelo VLT é de 15 mil a 45 mil passageiros/hora no mesmo sentido. VC tem 2 mil passageiros/hora”. Essa alfinetada de Menezes conseguiu desestabilizar Herzem. Ele ficou melindrado com a capacidade de Guilherme. Aí o peemedebista chiou, e se perdeu…
Não foram as perguntas, respostas ou ironias que o petista esgrimiu tanto quanto o adversário que fizeram diferença, mas a completa ausência de entendimento de Herzem sobre vários assuntos.
O fato, porém, é que Herzem não disse nada ao eleitor que ele já não sabia – saúde, educação e todo um rosário de acusações de cunho pessoal. Citar nomes de pessoas nas acusações não foi uma estratégia das mais efetivas. Boa parte do eleitorado não tem a mínima ideia de quem são os eventuais acusados.
Destaque do primeiro bloco – o caso da professora Cida. Sobre este fato, a resposta de Guilherme foi fenomenal. Falou do piso nacional que foi implantado antecipadamente em Conquista, do aumento dos professores deste ano e arrematou: “Isso é tratar mal aos professores?” Gusmão ficou sem resposta. Por quê? Porque fez as perguntas óbvias para serem respondidas por um gestor bem informado.
No segundo bloco, destaque para a pergunta que não quer calar: o que é mesmo “oficina nobre” dita por Herzem Gusmão? Pessoas foram para a NET perguntar: que diabos são oficinas nobres? O que ele queria dizer mesmo com isso? Demonstrou, naquele momento, que ele estava desestabilizado e perdido. No item – trazer gente de fora para Conquista, Herzem se deu mal de novo, porque, como o próprio Guilherme disse “o Sr. é a figura em Vitória da Conquista que mais aplaude pessoas que vem de fora para criticar Vitória da Conquista”. Sobre lazer e cultura não respondeu nada… Foi falar de uma UPA. É burrice ou má-fé intelectual. Até neste item se deu mal, pois a verba que ele citou da UPA se destina para a unidade que foi autorizada agora pelo governador para a Prates Bomfim construir, dando a Guilherme a oportunidade de dizer: “Ou o Sr. lê mal ou não quer ler a verdade…”
No terceiro bloco destaque para a frase: “O ano que o Sr. não gosta”, respondendo a uma pergunta a Gusmão sobre o tratamento que Guilherme dava à Zona Rural. Desde 97 que o prefeito vai, religiosamente, para a zona rural. E vai lá duas vezes por semana (terças e quintas). Aí, para fechar: A resposta de Herzem dizendo que a Justiça se equivocou, com relação à decisão do juiz condenando ele a se retratar diante de Guilherme e sua família… Outra do Gusmão: “o juiz não encontrou o caminho” na tentativa de condenar Menezes… Ou seja, o Judiciário, para Gusmão, está em xeque. Conselho para o radialista: Não use a sua régua para medir os outros, pois pode se dar mal. E foi o que aconteceu.
Herzem, com sua alienação sobre a inteligência do conquistense quanto à sua cidade, perdeu o debate e, no meu entender, com a reafirmação dessa postura naquele mesmo debate, e usando de uma arrogância revoltante, também perderá a eleição.
Ao final, construí um placar: 3X0 para Guilherme Menezes (pois ganhou nos três blocos). E se alguém viu empate, só se foi com sabor de vitória para Guilherme, que ainda disse que debate não é a praia dele (pois é administrador e não debatedor), mas conseguiu embolar a contento o meio de campo de Gusmão, que ficou perdido e desnorteado. Se o homem não é debatedor desta forma imagine se ele fosse! Sinceramente: era melhor ter tido apagão ontem (26/10) e não anteontem (25/10) para salvar Herzem Gusmão do vexame sofrido.
Luís Fernandes é jornalista e historiador