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Domar o capital para florescer a Democracia

Por G. C. Britto (engo civil e sanitarista) gutembergcbritto@gmail.com

Na  obra prima, Elogio à Loucura, de Erasmo de Rotterdam, a Loucura diz “a Fortuna gosta das pessoas irrefletidas, das temerárias, daquelas que dizem habitualmente: a sorte está lançada. A Sabedoria torna tímidas as pessoas; destarte, encontrareis, em toda parte, sábios na pobreza, na fome e na miséria; vivem esquecidos, sem glória e sem simpatia. Os loucos, ao contrário, nadam em dinheiro, tomam o leme do Estado e, em pouco tempo, são florescentes em todos os pontos”. Essa obra foi escrita em 1509, e publicada em Paris, em 1511. Naquela época, o poder na Europa pertencia ao clero, compartilhado pela nobreza. A classe média ainda iria se formar e, a pobre, abundante. Os intelectuais desse tempo eram agregados aos dois poderes existentes, pois não podiam sobreviver independentemente.

De lá para os tempos atuais, parece que uma fração pequena da população levou a sério as palavras de Erasmo, expressas pela Loucura. Tratou de produzir dinheiro, por todos os meios, lícitos e ilícitos, sem limitação de quantidade. Essa pequena parte da população, do exercício original de exploração da agiotagem e de negócios com grande liquidez,  transformou-se em proprietária de casas bancárias, detentoras do chamado  capital financeiro.  No final do século XIX, esse capital financeiro já sobrepujava o industrial ou o comercial. Passou a dominar o mundo. O grande arquiteto do sistema bancário, em escala abrangente, foi  Rothschild, quando estabeleceu os seus cinco filhos nos principais centros financeiros da Europa.

A casa bancária Rothschild consolidou seu poder mundial quando influiu na criação do banco central privado norte-americano, o FED. A partir de então, unida aos grandes bancos dos EUA, formou a Máfia Financeira Internacional, que, efetivamente, governa o mundo, pois é livre e completamente desregrada. Age acima dos interesses dos países. A tão glorificada Democracia é, portanto, refém dessa Máfia. Governo nenhum no mundo se consolida no poder sem o apoio dela. É determinante a sua influência na subvenção de campanhas políticas dos candidatos, nos países do seu interesse, a ocupar cargos nos poderes legislativo e executivo. Além desse fato, os bancos abocanham, irregularmente, grande parte do que os países produzem, via pagamento da dívida pública. É sabido que os bancos se interagem, quando seus interesses estão em jogo.

Os EUA destinam suas Forças Armadas para países ainda em estágio tribal, como Iraque e Afeganistão, querendo democratizá-los à força. Poderiam fazer um grande bem para a humanidade, em defesa da democracia, se regulassem a sua economia. Transformariam o FED num organismo estatal como o é  o Banco Central do Brasil. A máfia financeira, com essa atitude, teria o seu poder político reduzido,  pois todas as atividades financeiras daquele país seriam reguladas por aquele órgão.

A existência do sistema financeiro é indispensável para a manutenção do capitalismo. O seu desvirtuamento consiste em interferir na política econômica dos países, principalmente os periféricos, desfigurando-a de modo a satisfazer a seus interesses.  Portanto, quanto menos precisar um país de capital estrangeiro para o seu desenvolvimento, melhor para a sua autonomia. Da mesma forma, para fugir do financiamento das campanhas políticas pelos bancos, devem-se  diminuir os custos das eleições, visando com isso o financiamento público delas. A opção pelo voto distrital pode ser uma alternativa viável para países de grandes extensões territoriais, como o Brasil. De qualquer forma, tem-se que domesticar o capital financeiro, sob o risco de se perder a qualidade de vida propiciada pelo  exercício da democracia.