Espaço do leitor: artigos, crônica e poesia da semana

Artigo

Superação do medo

Por Dr. Paulo Hayashi Jr.

O ser humano, em distintas tradições, é conectado com a metáfora da árvore. Somos não apenas condicionados pela educação de nossos pais e antepassados como também devemos frutificar para dar provas de nossa qualidade. Neste sentido, é vital destacar que para a produção justa é necessário a superação do medo de errar. Não que nunca iremos falhar, mas que devemos encarar os equívocos e derrotas como lições a serem refeitas e aprendidas. Os vencedores falham em muitas situações da vida, pois faz parte do processo educativo. Por exemplo, LeBron James, atleta americano de basquete, costuma dizer que o fracasso é o caminho para a vitória. Ser um vitorioso não é aquele que nunca perdeu, mas que aprendeu a acelerar o processo de aprendizagem, mesmo em situações inóspitas. O conhecimento como o farol que ilumina a ignorância e auxilia nas escolhas corretas.

Mas não adianta saber sem força de vontade. É fundamental transformar potência em realização, inspiração em execução, pensamento em obras. É vivenciar a parábola dos talentos. De não enterrar o tesouro emprestado e esperar a vinda do dono sem nenhuma produção. Quem não tem medo e acredita em suas forças e capacidades consegue superar o pântano da inércia para fazer brotar, mesmo em terrenos difíceis, a plenitude da vida. Àqueles que não conseguem superar a zona de conforto, a perda do tempo e das lições valiosas para o crescimento pessoal terão prejuízo certo. Vitorioso é aquele que não ganha dos outros, mas de si mesmo.

Paulo Hayashi Jr. - Doutor em Administração pela UFRGS. Professor e pesquisador da Unicamp.

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Crônica da semana

VIDA DE HERÓI

Por Nilson Lattari         

Photo by Javier García on Unsplash

Volta e meia a mídia noticia a separação de um famoso ou famosa. Todos sabem que famoso ou famosa é uma dita celebridade. De algum tempo para cá, não se diz mais uma pessoa famosa, mas, simplesmente, um famoso ou famosa. O fulano, famoso, foi visto trocando a bateria do seu carro na rua tal; a fulana, famosa, foi vista saindo da água na praia de Ipanema ou Itamaracá; a famosa coloca um nudes no Instagran e enlouquece os fãs e as fãs, e o famoso também enlouquecendo os seus.

          Novos heróis modernos, a plateia vibra vendo a luta de seus ídolos contra os seus mesmismos da vida. Mesmismo: esse dia a dia monótono que eles enfrentam, não com as nossas armas, mas com as armas deles, mais poderosas, atuantes e justificadas, pensamos nós. E nos cabe perguntar, como os heróis das histórias de fadas não comem, darão faxina nas casas, terão sempre pessoas à disposição ou ficam como nós a perguntar a um amigo ou a uma amiga se conhecem uma boa funcionária? Quem sabe estará inclusa no salário a prerrogativa de ser um funcionário de famosos.

          Há, também, a separação do famoso A com a famosa B, ou então do famoso B com a não tão famosa A e seus vices e versas, afinal nem tudo são flores. Esses novos heróis ou heroínas fazem casamentos de príncipes e separações burlescas, algumas envolvidas em escândalos, traições e alguns se tornam apenas bons amigos; uma atitude civilizatória, exemplos e coisa e tal…

          Um herói é um arquétipo que transmite sabedoria, humildade, enfim, um exemplo edificante. Serão esses os heróis modernos?

          Exibem-se nas telinhas de televisão, nos espaços de teatros e cinemas e são lidos, devorados, através dos noticiários de revistas de fofocas e muitos publicam e são lidos, estão entre os best-sellers. Depois do casamento, das separações fazem o quê?

          Heróis, como os conhecemos nos livros de histórias e na literatura, não têm uma vida privada que possa ser desmembrada, exposta. O que fez o príncipe encantado que levou a Branca de Neve, a Gata Borralheira? Como ficou a vida da Bela, ao desencantar a Fera? Como passaram a viver os Sete Anões? E as bruxas malvadas? Foram infernizar a vida de outros? Não é ser sectário, pois nunca li sobre a existência de bruxos malvados a infernizar a vida de rapazes aprisionados.

          Heróis modernos ou figurações de heróis?

          O dia a dia é uma batalha sem fim. No nosso mundo pós-moderno ou o que isso queira lá dizer, os heróis são necessários? Herói ou heroína é voltar depois de um dia de trabalho e encontrar a casa desarrumada, roupa espalhada, cozinha até o alto de panelas, depois de um dia inteiro a arrumar outra casa que não seja sua; enfrentar o chefe, os colegas de trabalho numa disputa acirrada por uma promoção e encontrar o seu castelo com uma mulher ou um homem insatisfeitos com a vida que levam, retemperando reclamações no cérebro para descarregar a frustração no companheiro, e depois arrumar a casa, porque não tem faxineira e alguém, afinal, tem que ser herói para encarar.

          Heróis modernos que se lançam pelas ruas a carregar nos braços um companheiro, companheira, filhos, pais, avós na busca desenfreada contra o dragão dos hospitais cheios e despreparados, tomando o lugar da vez daqueles que desistiram há muito de ser heróis e gostariam apenas de ser coadjuvantes, observadores de outros heróis.

          E assim os famosos, longe dos holofotes, com suas caras limpas e seus sorrisos, andando sérios pelas ruas, a conferir preços nos supermercados, a se impacientarem com os filhos que não os veem como famosos, mas apenas pais e mães com suas falhas e defeitos.

          Gostariam eles de ser os heróis em que espectadores lhes vestem fantasias, querendo viver a vida que a realidade não permite, exibindo sorrisos inventados, mesmo quando há vontade de chorar.

          Definitivamente, não se faz herói como antigamente, se é que eles, algum dia, existiram.

*Nilson Lattari. Graduado em Literatura pela UERJ e especialização em Estudos Literários pela UFJF. Fui primeiro colocado em crônicas no Prêmio UFF de Literatura, 2011 e 2014, e terceiro colocado em contos pelo mesmo prêmio em 2009. Primeiro colocado em crônicas prêmio Darcy Ribeiro – Ribeirão Preto, 2014. Finalista em livro de contos Prêmio SESC de Literatura 2013, finalista em romance Prêmio Rio de Literatura, 2016, além de várias menções honrosas em contos, crônicas e poesias.

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Poesia

Por Patty Oliver

“Eu sei que você sabe
Tocar levemente minh’alma.
Com seus dedos frios.

Seus passos lentos
Pela casa
Despertam o meu interesse
E me provocam arrepio.

Pela madrugada
Perambulando
pelos cantos da casa
A minha alma
À sua espera,

Vai se despindo ao ouvir
Sua voz, ao sentir
Que você se aproxima
Lentamente, de mim

(E não nega.)

Eu reconheço o seu cheiro
Como se reconhece a brisa do mar…
Que, suavemente, percorre meu corpo.
Minhas pernas já me levam para o mesmo lugar.

A lua desce devagar
A noite cai no sono
Tu me tomas, e embebeda-se.
Eu, tomada, entrego-me

(Àquele sonho.)

Quando tu me tocas,
Como um instrumento,
Eu vibro
Ao toque das tuas mãos.

E se tu me perdes
Em teus pensamentos,
Quando devo caminhar
Para o seu coração?

Onde vamos chegar
Quando eu voltar
A sentir o sabor
Do teu intenso beijo?

Quando o teu olhar
A minha madrugada, mais uma vez, despertar
Até quanto posso sentir
O teu amor em meu peito?

Sei que tudo é passageiro
Mas queimo como fogo
Percorro meus quereres feito correnteza de rio…

Eu sei que você sabe
Tocar levemente minh’alma.
Com seus dedos frios.”

Patty Oliver, pseudônimo de Patrícia Santos de Oliveira, 
escritora, poetisa e violonista. Administradora. 

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Artigo

Antes que seja tarde demais… 

Por Paiva Netto 

“Ora, o fim de todas as coisas está próximo; sede, portanto, criteriosos e sóbrios a bem das vossas orações. Acima de tudo, porém, tende intenso Amor uns para com os outros, porque o Amor cobre uma multidão de pecados. (I Pedro Apóstolo, 4:7 e 8)

O Ecumenismo, como o entendemos, é a globalização sublimada pela Solidariedade. É indispensável, portanto, mundializar o Amor Fraterno e espiritualizar a tecnologia e a economia. Com a palavra, Joseph Alois Schumpeter (1883-1950), em A Teoria do Desenvolvimento Econômico“O processo social, na realidade, é um todo indivisível. (…) Um fato nunca é pura ou exclusivamente econômico; sempre existem outros aspectos em geral mais importantes”. (O destaque é meu.) 

E peço licença a Schumpeter para incluir entre os “outros aspectos em geral mais importantes” os espirituais

Precisamos reconhecer que a vida não tem início na Terra, mas no Céu da Terra, no Mundo (ainda) Invisível aos olhos humanos. Cumpre, então, acrescentar nessas considerações a famosa assertiva de Hamlet(Ato 1, Cena 5): “Há mais coisas entre o Céu e a Terra, Horácio, do que sonha a vossa filosofia”

São falas iguais a essa que justificam, há séculos, o renome do bardo inglês Shakespeare (1564-1616). 

Ora, antes de carne, somos Espírito, consequentemente, Cidadãos Celestes, o que nos convoca a estudar, para entender, as Leis que governam a esplêndida sociedade que gravita nas Esferas Invisíveis, que se situam bem acima de nossas cabeças. 

Daí já ter eu afirmado que matéria também é Espírito, e este, o Espírito, é a verdadeira realidade. Trata-se de mais um desafio à instigante física de partículas. O destino da Ciência convencional é o de ser a todo momento reavaliada. Quebrar paradigmas, considerados irremovíveis quando não o são, é o que impulsiona os vanguardeiros para a frente, para o futuro, para o Alto. 

Que nós, humanidade, compreendamos isso tudo antes que seja tarde demais! Aquilo que não alcançarmos pelo esforço do Amor pode vir a nos atropelar com a rigidez da Mestra Dor. 

José de Paiva Netto ― Jornalista, radialista e escritor.
Fundador da Legião da Boa Vontade-LBV.

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