Ex-coronel da PM diz que liberou senha em fraude do desarmamento
Apesar de ter revelado senha, ele afirma que não está envolvido no golpe.
Indenizações irregulares geraram prejuízos de R$ 1,3 milhões.
O ex-comandante do Batalhão da Polícia Militar de Feira de Santana, coronel Martinho Nunes, suspeito de participar do esquema de fraude da campanha do desarmamento do Ministério da Justiça, confirmou que liberou a senha para o pagamento das armas, mas garante que não está envolvido nas fraudes.
Ao todo, seis pessoas foram presas na operação Vulcano, realizada no dia 28 de novembro, mas já foram liberadas e vão responder ao processo em liberdade.
O coronel admitiu que era o responsável pela senha para emitir as guias de pagamento do programa do desarmamento. Ele também foi detido pela Polícia Federal durante a operação que investigou a fraude milionária contra o sistema nacional de desarmamento. Ele também assumiu que passou a senha para Carlos Nunes, irmão do coordenador da ONG MovPaz Brasil, Clóves nunes, apontado como principal chefe do esquema.
Em entrevista à imprensa, Clóves Nunes negou que tivesse acesso à senha que permitia a liberação das indenizações. O coordenador da ONG também acusou integrantes da Polícia Militar de terem sido responsáveis pelas indenizações irregulares do programa.
O coronel disse que, na época, adotou o procedimento porque estava muito ocupado com as atribuições do batalhão, mas que não tinha conhecimento da fraude. “A senha me foi concedida entre os meses de fevereiro e março de 2011. No mês de junho, no mês de julho, eu fiz a disponibilização dessa senha para Carlos Nunes, em razão do acúmulo de trabalho, da grande quantidade de armas que estavam sendo entregues, e isso durou até dezembro de 2011, quando eu me afastei para a reserva e a senha foi cancelada”, afirma Martinho Nunes.
Seis pessoas foram presas de forma provisória durante a operação. Todas já foram liberadas e estão respondendo o inquérito em liberdade. Segundo a polícia, elas deram um prejuízo de R$ 1,3 milhões aos cofres públicos, desviando indenizações destinadas à entrega voluntária de armas de fogo ao programa do desarmamento. 8.400 armas pelas quais foram pagas indenizações estavam em situação irregular. Quatro mil não existiam. As demais eram de fabricação caseira, o que não é permitido pelo programa de desarmamento.
“Eu nunca fiz recebimento de armas, nunca analisei armas e nunca inutilizei armas. Todo esse trabalho era feito na Casa da Paz e continuou sendo feito na Casa da Paz”, afirma o coronel.
Por ter dado a senha a outra pessoa, Martinho Nunes está respondendo por crime de negligência. O coronel disse que confiou em Carlos Nunes e nos coordenadores do programa e que por isso mesmo, não procurou saber o montante de dinheiro que estava sendo liberado para pagamento das indenizações. “Entre o momento em que a Casa da Paz foi posto de arrecadação, até 17 de novembro de 2011, 1.098 armas foram entregues e acredito que todas indenizadas. Esse volume de 8.000 armas eu não tenho a menor ideia de como isso aconteceu”, conclui.
Investigação
De acordo com a investigação da Polícia Federal, o golpe era feito com a inserção fraudulenta de dados de armas inexistentes no sistema “Desarma” para gerar um pagamento. A PF aponta ainda o cadastramento de armas artesanais como se fossem de fabricação industrial, a fim de gerar valores que podiam variar de R$ 150 a R$ 400.
A operação Vulcano foi realizada durante a madrugada do dia 28 de novembro, em três cidades da Bahia, e em Fortaleza. Foram cumpridos 23 mandados, sendo seis de prisão temporária, cinco de condução coercitiva e 12 de busca e apreensão.
O coordenador nacional da ONG Mov Paz Brasil, Clóves Nunes, foi apontado como o principal chefe do esquema.
“Nossa divisão de armas em Brasília detectou que Feira de Santana estava arrecadando 14% de todas as armas arrecadadas no país. É algo meio ilógico porque proporcionalmente estaria se arrecadando mais de que a cidade de São Paulo e a cidade do Rio de Janeiro”, disse o delegado responsável pela investigação.