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Instruídos e desinformados, por Nilson Lattari

Crônica da Semana

          Quando estudante na universidade, um professor disse-nos que ao final do curso as pessoas não sabem se saem formadas, informadas ou deformadas. A título de piada provocou risos na classe. E, hoje, eu fico pensando nessa piada que assumiu ares de realidade.

          Você passa pela escola ou a escola passa por você? E na vida, ela também pode passar por nós ou, simplesmente, nós passarmos por ela. É como frequentar instituições e não viver a plenitude do que elas representam.

          O canudo de papel é o objetivo de muitos. E, para muitos, pendurá-lo na parede é um símbolo de conhecimento ou ostentação. Assim como deixá-lo para o resto da vida em uma gaveta, bem-acondicionado e protegido e sair para a vida fazendo uma coisa, completamente diferente, revela o que a instituição representou para você.

          A vida intelectual prepara não só para uma profissão, sendo que, na maioria das vezes, a procura é pela remuneração financeira e, para muito poucos corajosos, a oportunidade de colocar a própria vocação em marcha e ser feliz.

          A escolha entre o dinheiro, a fama e o reconhecimento por realizar algo, realmente, amoroso e próximo dos desejos são uma constante. Por outro lado, algumas profissões não são apreciadas exatamente por serem pouco úteis. E essa utilidade que o capitalismo propõe é o verdadeiro cemitério de vocações. Não é comum alguém em um determinado ponto da vida chutar o balde e partir para fazer o que gosta, e se realizar como ser humano na escolha.

          Temos, então, o universo dividido entre os formados, informados ou deformados. Que podemos resumir entre os instruídos e os desinformados. No primeiro caso, estão aqueles que não se contentam com o diploma na parede, mas partem para o conhecimento, o estudo sempre eterno e cansativo de querer saber cada vez mais. No segundo caso, estão os desinformados. São aqueles que, a despeito de receberem a instrução, pouco se lixam para o fato que o estudo é um fator contínuo, eterno e cansativo, mas acham que um ensino e aprendizagem precários os colocarão no patamar mais elevado. Não têm noção da própria ignorância.

          Claro, todos precisamos sobreviver em um mundo injusto e competitivo. E a sobrevivência também é uma escolha. De que forma queremos sobreviver no mundo? Fazendo o que gostamos ou fazendo o que não gostamos?

          Dá para fazer as duas coisas? Talvez. Todos ficam felizes? Não se sabe. A culpa não é do estudante, a culpa é do entorno laboral e como sobreviver nele.

          Entre as duas escolhas, o desinformado faz mais sucesso que o instruído. O desinformado tem mais plateia e seguidores, o instruído poucos ou nada. A informação provoca a solidão, porque desloca o sujeito da realidade, buscando entendê-la. O desinformado consegue sobreviver no limbo da desinformação, porque nada que busca é uma causa de interesse, é de perversão intelectual. A mentira é o prato preferido do desinformado: fácil de fazer, fácil de divulgar e fácil de causar furor. A verdade, no entanto, é um prato indigesto, até mesmo para aqueles que são formados, vistos como deformados e sempre informados.