Internautas usam fotos do Google Street View para criticar Salvador
Um dia depois que o Google Street View passou a mapear as ruas de Salvador em seu sistema, por meio de fotografias tiradas em 360º, possibilitando aos internautas uma visita virtual à cidade, quatro amigos se reuniram e criaram um grupo no Facebook. A página “Salvador que o Google viu…”, nesta sexta-feira (17), já possui mais de cinco mil participantes, um crescimento de mais de mil pessoas em menos de 24 horas. Na rede social, eles anexam e discutem as imagens em clima de crítica e mobilização em tornos dos problemas da cidade.
“O grupo foi feito na quarta-feira [15], mas o pensamento de que Salvador precisa da participação mais ativa de seus moradores começou a ser debatido em julho, quando começamos a pensar em algo que pudesse ser feito para discutirmos e elaborarmos soluções para os problemas da cidade”, conta Laert Yamazaki, 39, que integra o Movimento de Apoio Independente a Salvador (Mais), criado junto a outros três amigos. “Nós estávamos indignados com os problemas que a capital vem enfrentando desde a necessidade de uma administração ativa, até a pró-atividade de seus moradores, para sairmos do comodismo”, afirma.
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Eles não imaginavam, no entanto, a adesão em grande escala dos participantes da rede social, que já postaram imagens de homem tomando banho em fonte de água ou urinando em público, buracos e lixos, árvores recheadas de bonecas, ocupação de ambulantes em locais proibidos, carros sobre passeio, obras abandonadas, calçadas destruídas, entre muitos outros exemplos.
O publicitário Ari Cabral conheceu a iniciativa esta semana e já postou alguns flagrantes. Para ele, a mobilização é importante porque ajuda a fortalecer a posição crítica da sociedade frente a seus problemas corriqueiros. “Achei sensacional. Não conheço outra iniciativa que tenha usado o GSV para cobrar soluções como está se fazendo. Na verdade, demonstra que não somos mais os mesmos. A internet aproxima pessoas e tudo se amplia, amizades, mas também indignação. Nessa discussão, eu quero estar sempre”, relata o publicitário.
Após observar que a maioria das imagens postadas no grupo fazia referência a problemas da capital, André Lemos, pesquisador de cibercultura e professor da Universidade Federal da Bahia (UFBA), opinou sobre o tom das críticas. “Não podemos pensar que o Google Street View irá revelar Salvador, algo novo, que não conhecemos. Nós sabemos dos problemas da cidade, mas não somos só problemas’, diz o professor.
Para André Lemos, é importante que as pessoas que se reúnem para discutir tais questões não passem a adotar a capital baiana como lugar que tenha apenas problemas e dificuldades. “Acho bom que grupos como esses se reúnam para discutir e pensar suas cidades, mas a discussão tem de ser além disso, como foi no caso do Movimento Desocupa [em Salvador], criado no Facebook e que levou as pessoas às ruas para protestar contra problemas da capital”, avalia.
Segundo Laerte Yamazaki, apesar de reconhecer que a maioria das imagens publicadas na rede social são de problemas físicos, está nos planos do grupo se estender além do “mundo online”, no resgate da autoestima. “O grupo, na rede social, é um primeiro passo, o de recolher a indignação da população para, em seguida, traçarmos alternativas e tentar algo além, sermos ativos também no mundo offline. Queremos transformar a indignação em estímulo social, em algo positivo”, completa. (Egi Santana e Tatiana Maria Dourado, do G1)
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