Jaques Wagner faz balanço dos 8 anos de gestão na Bahia
Ele concedeu entrevista ao jornal Bahia Meio Dia.
Político falou sobre realizações, desafios e novos projetos.
O governador da Bahia, Jaques Wagner (PT), foi entrevistado ao vivo no Bahia Meio Dia, jornal da TV Bahia, afiliada da TV Globo pelos apresentadores Fernando Sodake e Silvana Freire, e fez uma avaliação dos oito anos de gestão. Wagner dará lugar a Rui Costa (PT), eleito no primeiro turno das eleições no mês de outubro.
Fernando Sodake: Governador, essa sua experiência à frente do executivo estadual, dois mandatos, oito anos. A gente começa mostrando algumas imagens da primeira posse do senhor, em 2006. Governador, vendo essas imagens, qual a avaliação que o senhor faz? Todo esse período o senhor acredita que poder envelhece ou rejuvenece? Os cabelos, por exemplo, estão mais brancos?
Jaques Wagner: Se bem que já eram bastante brancos. Eu acho que o exercício do poder, quando é por vocação, como eu procuro sempre fazer na política, ele, evidentemente, enche de prazer por aquilo que você pode melhorar na vida das pessoas. Eu continuo dizendo que a atividade política, com todas as mazelas, é a mais nobre das atividades humanas porque é ela que organiza a sociedade, ela que organiza a nossa comunidade, nosso estado, nosso país. Então, eu sou agradecido profundamente ao povo baiano. O que eu carrego com maior orgulho, oito anos governando a nossa Bahia. Procurei trabalhar com muita humildade, que eu acho fundamental na política, com muita abertura, com muito diálogo, mesmo com os adversários, com vocês da imprensa, acolhendo com tranquilidade a crítica, que vem sempre ao lado do reconhecimento. Eu acho que o papel da imprensa é, às vezes, reconhecer e estimular ao gestor, mas muitas vezes em nome da população externar aquilo que é dificuldade. E vocês acabam servindo como feedeback, como autocrítica, que vem de fora. Eu queria também agradecer essa relação de oito anos aqui, com a Rede Bahia. É óbvio que tem momento que você acha que a crítica não é exatamente o que você esperava, mas eu não reclamo nada da imprensa, porque eu acho que a imprensa tem de ser controle de qualidade do povo. Agora eu faço um balanço positivo. Bom, envelheci oito anos, mas confesso que hoje, terminado o governo, me sinto assim pessoalmente muito realizado por essa trajetória.
Silvana Freire: Governador, voltando um pouco no tempo, o senhor foi eleito em 2006 e reeleito em 2010. Qual a marca do governo Wagner? O que marca esses oito anos à frente do estado?
Jaques Wagner: Eu primeiro queria colocar uma marca no campo da política. Eu creio que a gente fez um exercício da política diferente. Havia um outro grupo político que tinha as suas características. A gente procurou fazer um jogo muito aberto, realmente respeitando, inclusive, adversários, tendo uma relação muito franca através de comissões, conferências com a sociedade civil, organizar empresários, trabalhadores. Eu acho que essa marca é reconhecida. Eu tenho a tranquilidade de dizer que em oito anos, nenhum prefeito, independentemente de ser de governo ou de oposição, foi perseguido pela escolha que o povo fez nesse ou naquele. Então, essa para mim é uma marca que eu carrego com muito carinho e acho que ela é própria da democracia. Na área, vamos dizer, de execução, tem ítens que se sobressaíram. Estradas, por exemplo, vamos fazer oito mil quilômetros de estrada. Emprego, que é fundamental para o nosso povo, nós estamos vivendo a menor taxa de desemprego da história da Bahia. Conseguimos trazer 600 mil novos empregos. Segurança, que é sempre um problema porque é um desafio para todo governante, nós fizemos um investimento muito grande. Dezoito mil policiais novos contratados, renovamos a frota de veículos. Ou seja, estamos melhorando a segurança. Hoje tem integração: Polícia Militar, Polícia Civil, Polícia Técnica. Então, eu diria assim: tem uma marca da política, do jeito diferente do exercício, e aqui o campo do social, que foi sempre o que a gente se preocupou mais.
Fernando Sodake: Governador, e aquilo que o senhor prometeu fazer ou melhorar que não conseguiu. Por exemplo, a situação dos aeroportos no interior. Isso tirou o sono do senhor?
Jaques Wagner: Não, o sono não. Eu sou um cara muito tranquilo porque eu sei que quando você encara os problemas de frente é sempre melhor para a gente resolver. Esse é um desafio. Começamos agora no finalzinho a ter sucesso. Feira de Santana já tem voo comercial, Teixeira de Freitas já tem voo comercial. Ou seja, a gente está expandindo a aviação regional com o apoio do Governo Federal, que está dando incentivo às empresas aéreas, e nós estamos com um plano. Eu acho que, realmente, Feira de Santana vai estar logo, logo com voo direto através da Azul de Campinas para cá. E de voos internacionais nós melhoramos muito. Nós temos aí companhias da Espanha, a de Portugal, que já estava, American Airlines. Hoje, Salvador tem, aproximadamente, 30 voos semanais para fora do país. Então estamos trabalhando. Agora é óbvio que temos vários desafios que você avançou, mas ainda não chegou lá. A ponte Salvador-Ilha de Itaparica, eu acho que o edital vai ser lançado já com o novo governador em janeiro e, com certeza, ela vai se transformar em realidade.
Silvana Freire: Dessa questão da ponte Salvador-Itaparica, o senhor falou também das estradas. Tem a ferrovia Oeste-Leste, por exemplo, a duplicação da BR-101. O que faltou para a conclusão disso aí, assim como o metrô Salvador-Lauro de Freitas?
Jaques Wagner: Não, o metrô, na verdade, nada atrapalhou. Ao contrário, eu tenho a marca da medalha de ouro do metrô. O metrô estava parado, passou por vários governos, e nunca saiu do papel. E eu fui o governador e digo, porque isso é reconhecido na rua, que tirou o metrô do papel. Ele está circulando, a extensão até Pirajá está aí e agora ele vai começar a construir até Lauro de Freitas, os 43 quilômetros. Aí é o contrário. Eu me orgulho muito desse aspecto porque a gente tirou alguma coisa que parecia um trauma para a cidade de Salvador.
Fernando Sodake: E no caso da ferrovia Oeste-Leste, por exemplo. No trecho Ilhéus-Caetité, 57% da obra já foi concluída, mas no trecho de Barreiras, por exemplo, 3,7% apenas até agora. O que está dificultando essa conclusão?
Jaques Wagner: Não. Na verdade, eu queria de novo olhar sob um outro ângulo. Você está abordando sob um ângulo, eu olharia sob um outro ângulo. Essa ferrovia estava projetada há 60, 70anos e ninguém tirou do papel. Então, eu prefiro olhar pelo lado do meio copo cheio, porque a gente tirou do papel. Hoje, ela é uma realidade. Evidentemente que tem um trecho que a empreiteira conseguiu andar mais rápido, outro foi mais lento. Tinha problema ambiental, passava por terra indígena, mas hoje, o Porto, a gente está com lincença definitiva de instalação e nós vamos oferecer a Bahia a maior infraestrutura logística da nossa história. São 1.100 quilômetros de ferrovia cruzando desde a fronteira Goiás, Tocantins até o Oceano Atlântico. Vamos ganhar um novo porto, que é um porto para navio de alto calado. Isso vai mudar completamente a logística do estado.
Silvana Freire: Agora governador, uma outra situação que é preocupante, que surge muitas críticas por causa disso, é a situação da segurança. O que é que mais preocupa hoje? É o controle do tráfico de drogas? Desses líderes? Qual é hoje a forma de se combater isso?
Jaques Wagner: Olhe, nós começamos organizando. Fizemos o “Pacto pela Vida”, que é um planejamento de estado para a segurança. Eu posso lhe garantir – você pode perguntar a qualquer policial militar, civil ou policial da polícia técnica -, que hoje a segurança da Bahia tem horizonte. Nós fazemos uma reunião mensal com a minha presença, a presença do chefe do Ministério Público, do presidente do TJ, a defensora geral e nós temos hoje um planejamento. Incorporamos 18 mil novos policiais e colhemos o primeiro fruto ano passado: uma queda de 8% no número de homicídios. Hoje, praticamente, todos os chefes do crime ou morreram em confronto com a polícia ou estão deslocados para presídios de alta periculosidade fora do estado. O problema do controle da entrada de drogas é fudamental e aí é uma responsabilidade do Governo Federal, porque não é fácil. A nossa fronteira é muito extensa – a fronteira terrestre -, e realmente a gente não produz pasta de cocaína, mas quando ela entra, ela aqui vira um formigueiro. Então, essa é a grande dificuldade, mas eu creio que nós primeiro temos um horizonte diferente: a polícia mais preparada, a inteligência melhor, vamos inaugurar o Centro Integrado de Comunicação. Como eu lhe disse, colhemos o primeiro fruto e eu diria que esse ano nós vamos ter outra redução, que o foco do “Pacto pela Vida” é a redução de homicídio.
Fernando Sodake: Governador, outro ponto que a população também questiona muito é a questão da saúde, que é um ponto fundamental. Existem, claro, muitas reclamações: que faltam leitos, obras a serem concluídas. Por quê é tão complicada essa situação? Falta recurso? Falta melhor gestão desse orçamento? Isso vai ser sempre um problema para qualquer governante?
Jaques Wagner: Vai. Se você chamar qualquer pessoa de marketing ou de pesquisa ele vai lhe dizer – e sempre foi assim comigo -, não se assuste que em todos os estados que a gente faz pesquisa, o item saúde sempre aparece em primeiro lugar do ponto de vista da demanda da população. Por quê? Porque quando você tem alguém doente na sua casa é o momento que a família está mais fragilizada. Então, qualquer obstáculo que você tenha para conseguir fazer esse tratamento evidentemente que é uma angústia para todo mundo. Mas de qualquer forma, nós fizemos cinco hospitais regionais novos, um deles que é uma referência internacional que é o Hospital do Subúrbio, que realmente é uma referência. Nós temos cinco hospitais construídos no interior, estou construindo o sexto em Seabra, que será concluído. Fizemos a ampliação do Roberto Santos, fizemos a ampliação do HGE, levamos o SAMU 192 para 75% da população – ele estava em 30%. Agora, eu reconheço que tudo que você faz em saúde, repito, é pouco, porquê quando a pessoa não conhece que tem o serviço, ela nem lá vai. Toma seu chá em casa e fica sofrendo. Quando você abre um porta e as pessoas que lá tem um atendimento bom, o “Mais Médicos” foi sem sombra de dúvidas coroajosa e pioneira. Aqui na Bahia, nós recebemos 1.500 médicos que vieram contribuir – e você pode perguntar a qualquer prefeito -, isso foi uma mão na roda. Esses médicos trabalham oito horas por dia sem ônus para o orçamento da prefeitura. Então eu acho aque está caminhando. Mas a saúde, repito, será sempre, em qualquer governo, por mais que você faça – nós fizemos “Saúde em Movimento”, 130 mil cirurgias de cataratas, a prevenção do câncer de mama é reconhecida como o maior programa do Brasil -, mas ainda está faltando muito.
Fernando Sodake: Governador, falando agora do seu futuro na política.
Jaques Wagner: Olha, então, a presidenta Dilma – evidente que com o patrimônio político que nós conquistamos com essa vitória -, há um reconhecimento nacional de que a Bahia merece reconhecimento, não eu pessoalmente, mas a Bahia. Como eu tenho uma relação muito positiva com a presidenta Dilma, ela já me convocou, que me quer na coordenação política do governo. No Ministério da Defesa. Eu vou continuar ajudando o Brasil e, evidentemente ajudando a Bahia, o governador Rui Costa.
Silvana Freire: Governador, muito obrigado pela sua conversa, esse bate-papo aqui no Bahia Meio Dia. Faça suas considerações finais.
Jaques Wagner: Eu queria primeiro agradecer esse convite de final de ano, desejar a todos vocês que estão acompanhando um Natal de muita paz, de muita fé e muita renovação de esperança e esperar que 2015 chegue com boas notícias para todos e quero desejar o mesmo aqui para vocês dois, para direção da empresa e para própria empresa – esperar que 2015 seja melhor ainda do que 2014. Obrigado a todos.