Mãe de Glauber Rocha recebe homenagem póstuma
A solenidade é uma realização da Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia em parceria com a Câmara de Vereadores, e a Prefeitura Municipal de Vitória da Conquista
Nesta sexta-feira (14), Dia Municipal da Cultura, às 19h, a Câmara Municipal de Vitória da Conquista, a Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia (Uesb) e a Prefeitura Municipal de Vitória da Conquista prestam homenagem póstuma à dona Lúcia Mendes de Andrade Rocha, mãe do cineasta Glauber Rocha. Dona Lúcia morreu no dia 3 de janeiro de 2014, aos 94 anos.
O evento é bastante significativo para a cultura conquistense. Dona Lúcia não é apenas mãe do cineasta Glauber Rocha, ela é considerada também “Mãe do Cinema Novo”, devido à sua obstinação em preservar filmes e o acervo documental do filho desde a sua morte, em 1981. Para tanto, buscou patrocínios que viabilizassem seu trabalho, o que a tornou bastante conhecida e querida no meio cinematográfico.
Além disso, 14 de março, aniversário de nascimento de Glauber Rocha, foi instituído como Dia Municipal da Cultura, por meio da Lei 1.367/2006, de autoria do ex-vereador Adão Albuquerque. Esse foi o motivo de a homenagem ter sido programada para esta data. A lei, segundo o autor, justifica-se “por ser a cultura sinônimo de resistência e integração, fortifica laços e promove a relação humana e seus costumes, e Glauber Rocha representa bem esse valor cultural para o país, tendo construído monumental obra cultural, através da cinematografia”. Diz ainda que “Por meio dele, o cinema brasileiro passou a ser visto, considerado e respeitado pelo mundo da cultura e das artes”.
A solenidade vai reunir representantes da cultura conquistense, educadores e autoridades políticas, entre eles, o presidente da Câmara Municipal, Fernando Vasconcelos, e demais vereadores, o prefeito Guilherme Menezes, o Reitor da Uesb, Paulo Roberto Pinto, o secretário municipal de Cultura, Gildelson Felício, o Pró-Reitor de Extensão da Uesb, Fábio Félix, o diretor do Instituto de Radiodifusão do Estado da Bahia, Pola Ribeiro, a presidente da Associação Amigos do Tempo Glauber, Paloma Rocha e a coordenadora do Programa Janela Indiscreta e professora do Curso de Cinema e Audiovisual da Uesb, Milene Gusmão.
Entre outras atividades estão previstas, leitura de cartas, moção de aplauso e exibição de dois filmes que trazem Dona Lúcia como protagonista. O primeiro será o curta-metragem ‘‘Mãe’’, de Fernando Belens e Umbelino Brasil. E o segundo será o filme “Abry – O filme de Lúcia Rocha”, de Joel Pizzini e Paloma Rocha.
“Mãe do Cinema Novo”
Lúcia Mendes de Andrade Rocha nasceu em Vitória da Conquista em 1919. Teve Glauber em 1939 e foi responsável por sua alfabetização. Quando o filho ainda era pequeno, a família mudou-se para Salvador, cidade em que ele desenvolveria seu pendor artístico.
Ela perdeu outros dois filhos (uma, Ana, ainda criança, de leucemia, e outra, a atriz Anecy Rocha, em acidente num elevador, em 1976).
“Mãe coragem” passou décadas guardando tudo que Glauber jogava fora – pegava rascunhos amassados no lixo e passava a ferro, tamanha a idolatria que sentia por ele. Chegou a juntar mais de 100 mil documentos, fotografias e textos (boa parte permanece inédita).
Desde a morte prematura de Glauber, lutou pela preservação e propagação de sua filmografia e vasta produção intelectual. Conseguiu, com a ajuda dos descendentes, patrocínios para restaurar filmes, de Barravento (1962) a A Idade da Terra (1980). Abriu o Tempo Glauber, centro cultural em Botafogo que conta com moderno setor de documentação, batizado com seu nome. Lá fica o arquivo amealhado por dona Lúcia.
Ela foi a grande incentivadora do filho Glauber. Quando ele filmou Barravento, na Bahia, ela cozinhava para todo o set. Para Deus e o Diabo na Terra do Sol (1964) – o seu preferido – e O Dragão da Maldade Contra o Santo Guerreiro (1968), dona Lúcia fez alguns figurinos.