Massacre nos presídios: analise psiquiátrica forense
Grande parte dos presidiários envolvidos nas chacinas gostam de matar, morrer, brigar. Quem não aprendeu trabalhar não tem solução.
Vou aqui repassar minha experiência de 35 anos em unidades psiquiátricas-forenses hospitalares.
Minha tese é de que, para deter as rebeliões/chacinas nos presídios, de nada adiantará “políticas de direitos humanos”, “recursos e mais recursos”, “comissões”, ou seja, o “blábláblá” de sempre… Atualmente dirijo uma unidade hospitalar psiquiátrica-forense destas, voltada para adolescentes. Tenho especialização em psiquiatria criminal forense e em psiquiatria do adolescente, pela Universidade de Paris.
Existe uma ciência chamada “etologia” que estuda o comportamento e desenvolvimento comportamental animal. Faz parte da biologia. A biologia mostra que, se você tampar os olhos de um gatinho, logo depois que ele nasce, por um pequeno período de tempo, depois, mesmo se você destampar os olhos dele, ele não vai voltar a enxergar, as células do cérebro dele responsáveis pela visão já “morreram”, não se desenvolvem mais. São os chamados “developmental tender points”, ou “pontos sensíveis do desenvolvimento”. Uma vez ultrapassados, não há mais volta…
Na psicologia infantil-juvenil há a mesma coisa : se você não aplicar a disciplina amorosa e o senso de responsabilidade/dever/trabalho, numa determinada fase, depois não se conserta mais. Isso está acontecendo com a juventude de hoje: não recebem disciplina, ocupação, responsabilidade, dever, na época certa. Não aprendem a trabalhar. Depois só irão “curtir os prazeres da vida”, não terão aprendido o “prazer do trabalho”. Irão transformar-se em animais, viver para o prazer das drogas, comida, sexo, o prazer da agressividade, lutas, guerras, etc.
Isto é um problema da sociedade ocidental atual, que vive de “passar a mão na cabeça” da molecada, “a psicóloga disse que não pode bater”. Criança precisa, sim, ser contrariada, se necessário, precisa, sim, levar palmada. Não pode se julgar a dona do mundo, melhor do que todos, dona do próprio nariz, a “rainha do pedaço”, o “reizinho que tem de ser satisfeito em tudo”. O amor disciplinado tem de contrariar, tem de castrar. Na época certa tem de dar a tarefa, a responsabilidade, o estudo, o trabalho.
Isso, na família de antigamente, ficava muito a cargo do pai. Mas a “função paterna”, hoje em dia, foi destruída, foi anulada. Colocaram a “psicologia”, os “direitos humanos”, os “meus direitos”, o prazer, as “garantias do Governo”, no seu lugar…
Resultado: depois que a pessoa não aprendeu a trabalhar, “ babau”… Não aprende mais; vai querer curtir a vida com outras coisas, que não o prazer da realização , do trabalho, da “coisa-bem-feita”. Vai ter prazer só nas coisas “biológicas”, inclusive na luta.
Esse povo das gangues intra-penitenciária tem “prazer em brigar”, tem “prazer em matar”, e isso nossa “sociedade da psicologia”, dos “direitos humanos”, não quer aceitar. Eles estão super felizes, estão se esbaldando, de tanto guerrear, matar, trucidar, esquartejar. É o prazer deles. Um prazer tanto maior porque turbinado, além dos fatores psicossociais acima, pela lesão cerebral produzida pelas drogas e pelas disfunções cerebrais produzidas pelas genéticas das quais muitos são portadores: hiperatividade, transtorno bipolar, distúrbio de personalidade psicopática, alterações cerebrolesionais do comportamento, “impulsividade/agressividade orgânica”, etc. Então, com doença, com droga, com toda uma deformação social, psicológica, familiar, são praticamente incuráveis. Se há incurabilidade, têm, sim, de ficarem fechados, pois a sociedade precisa de paz para viver e trabalhar. Mas, mais uma vez, as políticas governamentais vão é na contramão disso tudo: “vamos soltar eles, gente”, “50% está preso injustamente”, “são criminosos de crimes pequenos”.
Olhem, vou dizer prá vocês , após 35 anos lidando com esta população, nunca eu vi um “preso injustamente”, nunca vi um “anjinho na cadeia”. Pelo contrário, quando são presos é porque já é tarde demais, já cometeram crimes demais… Se nossa população carcerária cresce não é por causa de “falta de direitos humanos”, pelo contrário. Ela cresce porque o Brasil é o país mais permissivo , mais frouxo do mundo, mais libertino do mundo, mais “pode-fazer-o-que-quiser” do mundo, mais sem regras e sem obediência do mundo . É claro que vai ter muito crime mesmo, muito homicídio, muita prisão… Aqui pode tudo, esse povo faz de tudo, e quando é preso aí vem reclamar da “falta de liberdade”.
Solução prá esse povo? É reclusão mesmo, senão a sociedade não tem paz, como agora não vem tendo… É claro, que, ao meu ver, não é apenas “recluir por recluir”. No meu entender, prisões deveriam ser hospitais psiquiátricos, com tratamento, ocupação, psicoterapia, medicação que se fizer necessária. Avaliações periódicas para ver se há melhora. Se não há melhora, que continuem presos. Antes eles do que nós.
Marcelo Caixeta é médico, especializado em Psiquiatria Forense Associação Brasileira de Psiquiatria e em Psiquiatria do Adolescente, Universidade Paris XI. Artigos as terças, sextas, domingos, em “impresso.dm.com.br” no Diário da Manhã – Goiânia-GO.
Nota da Redação: Alguns métodos de apoio ao sistema prisional brasileiro vem dando excelentes resultados. Comarcas como Itaúna, Uberlândia, Pouso Alegre e outras, vem alcançando excelentes resultados com o método da Associação de Proteção e Amparo aos Condenados – APAC, que ensina como libertar as pessoas desse terríveis vícios, mesmo depois de aprisionadas, São presídios onde não há incursão das policiais e as os próprios apenados fazem a segurança, justamente com o apoio da família, que, reconhecem seu papel e assumem o compromisso de reabilitar seu condenado.