Não é só Lupita: racismo e padrões de beleza
Com a coroação da jovem atriz Lupita Nyong’o como a mulher mais bonita do mundo (deste ano), pela revista People, o mundo para e se questiona: o que é o belo? onde está a beleza da negritude? e, onde esteve até agora?
A revista em questão é a representação perfeita de mídia tradicional. Veículo norte-americano, líder incontestável em audiência e especializado em noticiar a vida das celebridades e dizer como devemos ser e viver, enfim, embasado na padronização do público e na espetacularização da sociedade.
Lupita é uma mulher negra, nascida na Cidade do México e radicada Queniana, ganhadora de vários prêmios, inclusive o Oscar, por sua atuação no filme 12 anos de Escravidão.
Desde 1990 a People elege a pessoa mais bonita do mundo e, acreditem ou não, até hoje só houve três negros no primeiro lugar do ranking. O que isso quer dizer? Que o mundo está mudando? Que agora as meninas negras vão dizer: Mamãe, eu quero ser igual a Lupita, em vez de alguma celebridade branca qualquer, quando crescer?.
Será que o olhar da velha mídia sobre a comunidade negra mundial mudou? Ou os tempos que são outros? Ana Flávia Magalhães Pinto, historiadora e integrante do Coletivo Pretas Candangas, de Brasília, acredita que se não mudou de fato, há algo, sim, de ganho no ocorrido. “O reconhecimento da beleza de Lupita contribui, portanto, para a visibilidade do talento de uma mulher e atriz negra e serve de referência para muitas jovens mundo afora”, esclarece.
Existe uma cultura que inviabiliza o fortalecimento da autoestima do negro em todo os campos e chama-se racismo. A frase é do baiano Hamilton Oliveira, o Dj Branco, Secretário-executivo do Conselho de Desenvolvimento da Comunidade Negra da Bahia, entidade da sociedade civil que cuida para que a população do estado, em sua maioria negra, esteja acolhida pelos direitos que lhes cabem.
Branco é negro (sim, a frase é essa) e é chamado assim desde a infância por ter a cor da pele mais clara com relação a seus irmãos. Ele acredita que a mudança existe e credita a eleição de Nyong’o à incansável luta do movimento negro pelos tempos, “Hoje temos, em quase todo o mundo, políticas de promoção da igualdade racial que vem reparar as atrocidades cometidas contra os homens e mulheres negras por toda a história. Isso é uma grande consquista”, afirma.
Sabemos que muito foi feito, mas o racismo, que esgueira sem parar pelos cantos, precisa ser enfrentado. A beleza é uma construção social hegemonicamente racista, classista, machista e excludente. Uma pedagogia da estética é bandeira de luta fundamental: negras e negros em sua multiplicidade de formas, corpos, rostos, cabelos considerados belos. Mudar Mais: lutar por um tempo em que não sejam os 50 mais belos do mundo, mas os mais de 100 milhões de negros e negras belos do Brasil.