No fio da navalha
Há expressões que a gente ouve e usa e repete em determinadas ocasiões que são muito mais completas, rápidas, visuais e esclarecedoras do que outras porque definem imediatamente a situação, em geral de perigo, muito perigo. Então, digo: estamos periclitantes e no fio da navalha, mas essa semana descobrimos que tem gente conhecida por aí muito pior, com a cabeça a prêmio, pronta para ser entregue de bandeja
Com a corda no pescoço. Se correr o bicho pega; se ficar, o bicho come. Andar no fio da navalha. Andar na corda bamba. Acabou-se o que era doce. Decidindo com a faca no pescoço. Mais perdido que agulha em palheiro. Frases que poderiam tranquilamente ser alocadas na bandeira em substituição ao seco “Ordem e Progresso”.
Quando a gente se irrita com alguém, depois de explicar alguma coisa com a calma que Deus deu, e a pessoa não entender, às vezes perguntamos: “Quer que eu desenhe?”. Pois essas expressões que a nossa língua nos fornece fazem isso, desenham. E é a hora que a velha e boa sabedoria popular se perpetua. Mazzaroppi, mantenha-se entre nós!
Claro que depois de uma semana como essa, essas frases me vêm à cabeça para definir a situação que se encontram os 38 réus do mensalão. Já que eles não querem que usem a palavra Mensalão, inventamos outra: Navalhão! Mas não só. Para descrever a situação do povo sírio, que já não tem mais para onde correr. Para comentar a crise econômica que assola a Europa, especialmente a Grécia e a Espanha. E até, porque não?- para mostrar a situação dos eleitores brasileiros que neste ano precisarão escolher e votar em candidatos à Prefeitura e às câmaras de suas cidades. Por acaso já se interessou em ver as opções disponíveis? Melhor desfolhar margaridas, bem-me-quer, mal-me-quer.
E os nossos atletas nas Olimpíadas se espremendo para não fazer tão feio lá em Londres quanto as dificuldades que enfrentam para poderem competir em desnível total em praticamente todas as modalidades esportivas? E olha que a próxima será aqui. Insegurança não faltou.
Andamos mais para lá do que para cá, inclusive pela saturação dos assuntos supracitados. Sou moça (!) muito otimista, garanto. Adoraria só escrever sobre as margaridas do campo, coloridas borboletas voadoras, sobre o progresso e desenvolvimento nacional. Mas a realidade é dura, e as antenas captam o que até a razão desconhece, semana após semana. Lá vamos nós atrás da tal luz do final do túnel, uma velinha tênue, fiapinha, nos conduzindo aos trancos e barrancos. Não adianta riscar fósforo no caminho – o fósforo sem qualidade como os que estão no mercado, que você risca, eles quebram. Queimam seu dedo, risca um, risca outro. Acaba a caixa e você não acendeu é nada.
Se as coisas não caminharem corretamente o sentido de outra série de frases feitas e até de interjeições costumeiras será desconstruído. No caso do mensalão, por exemplo, o crime vai recompensar, caso haja a liberação geral dos respectivos badarós em julgamento.
Quanto às eleições, o ruim com ele pode ficar ainda pior com qualquer outro se tentarmos melhorar as coisas usando desconhecidos aventureiros.
Novos centauros, mas só que meio poste, meio gente.
Marli Gonçalves é jornalista – Era bem mais divertido quando candidatos podiam dar camisetas para ninar o sono dos eleitores esperando o cumprimento das promessas…