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Relembranças, por Nilson Lattari, crônica da semana

Foto de Quaritsch Photography na Unsplash

A palavra não existe, é uma criação a partir de relembrar, sendo que o verbo nos diz a ideia de tornar a fazer, tornar a lembrar.

Vai daí uma relembrança sendo a mesma coisa, porém, com uma tonalidade diferente: fazer a releitura das nossas lembranças.

Reviver o passado, dentro de uma zona de conforto, é como olhar para longe de tão perto aquele passado que nos deixou saudade ou uma sensação de estrada que não foi percorrida; é estabelecer uma zona de conforto.

Relembranças é trazer de volta o que aconteceu dentro de uma releitura, vendo o passado dentro de um pedaço de algodão, que não esbarra em nada e não se pode quebrar, habitando e levitando dentro de nossos silêncios.

É sempre bom saber que glamurizamos o passado, dentro de um ideal romântico, a partir da maturidade e da compreensão que temos do nosso presente, o futuro daquilo que relembramos.

Sendo ou um desvio de nossa trajetória profissional, a opção, depois analisada como mal escolhida, de uma viagem que não fizemos, de um amor que deixamos para trás em função de outras escolhas, a volta do passado traz junto ao presente o toque de cuidado que damos aos cristais.

Relembranças são sempre bem-vindas, refazer a leitura do que vivemos nos traz conforto, serve para a chegada do sono, serve para nos fazer sorrir no silêncio das nossas solidões, que surpreende alguém que chega perguntando o motivo do sorriso.

E respondemos não é nada. E, realmente, não é.

Relembranças são importantes como recargas no tédio, na decepção, no momento do infortúnio, relembranças são vitais ao nosso cotidiano.

Viver cada presente com muitas histórias são sempre recargas abundantes para relembranças no futuro.

Reviver o passado em flocos de algodão é sempre saudável, o perigo é quando tentamos revivê-lo novamente, no presente.

O perigo da decepção é grandioso.

Afinal aquela vida profissional pode não mais existir, como deixam de existir tantas outras, as viagens poderão se tornar monótonas e sem sentido, e o amor envelhece em todos os espaços – físicos e espirituais, e as pessoas envolvidas nisso tudo também se transformam em outras, completamente diferentes, com outras experiências que despiram de si o objeto dos nossos encantos.

Recordar é viver, mas, reviver é bom não acordar, é deixar adormecido com a certeza de que aquilo pertence somente a nós mesmos, e não dividimos com mais ninguém.

Tudo aquilo que nos causou impacto, e se tornou joia guardada em caixinha acolchoada, pode ter sido não aquilo que pensamos naquele momento, pode vir a ser monstro que deveria permanecer adormecido, e não se tornarão, exatamente, presentes que julgamos ter merecido.

Deixe-o preterido, como futuro, como algo que, apenas, poderia ter acontecido.