Saiba como pedófilos buscam vítimas na internet
Uma operação recente da Polícia Federal prendeu mais de 50 pessoas por compartilhamento e produção de material pornográfico infantil. Com a atuação cada vez mais forte das autoridades, os pedófilos têm buscado novas formas de compartilhar material evitando a identificação. Atualmente as redes sociais e jogos online são meios usados para iniciar o contato com crianças e adolescentes.
Desde meados da década passada, o principal ambiente frequentado pelos pedófilos tem sido a deep web, uma espécie de subcamada da internet que não é acessível por meio de buscadores e navegadores comuns. A principal preocupação é evitar a identificação pela polícia e os ataques de hackers que costumam derrubar as páginas de pornografia infantil, conhecidas como “hard candy” ou “jailbait”.
Para os policiais que trabalham diretamente no combate a estes crimes, o ambiente virtual é tão hostil e perigoso quanto o ambiente real, e os abusadores ganham status quando conseguem seduzir novas vítimas. “A ideia de seduzir uma criança para eles é uma conquista, escravizar a criança (…) Por isso o perigo da internet, que tem que ter um acompanhamento diuturno dos pais, nunca deixar a criança sozinha no computador, é um ambiente hostil”, diz o delegado da Polícia Federal Rafael França que integra o Grupo de Repressão a Crimes Cibernéticos que faz parte da Unidade de Repressão a Crimes de Pornografia Infantil.
Não existe um perfil definido de quem compartilha material pornográfico infantil. O que se sabe é que uma vez soltos, a probabilidade de os consumidores de pornografia infantil voltarem a cometer esse tipo de crime é grande. Durante a operação Darknet deflagrada no mês passado, “vários foram presos novamente, foram pegos de novo fazendo a mesma coisa. Alguns confessaram, inclusive, que tomavam remédio durante um tempo, mas que deixaram de tomar porque tirava a libido”, conta França.
O comportamento dos pedófilos na internet pode ser dividido em dois momentos. No início costumam navegar sozinhos em busca de fotos e vídeos, e evitam grupos por medo de serem identificados. Mas isso não quer dizer que não troquem informações, tanto que quando presos, sabem até o que dizer à polícia para evitarem punições mais duras.
A outra forma de pedofilia virtual é mais ousada, quando os abusadores buscam contato direto com as vítimas. Isso acontece principalmente em redes sociais e jogos que permitem conversas entre os participantes.
“Em um caso (investigado pela PF) no interior do Estado (do Rio Grande do Sul) ele se passava por uma criança no Facebook. É muito perigoso isso aí, é uma coisa que até passei a cuidar (com meus filhos) porque qualquer joguinho online tem um chat e é naquele chat que eles entram, começam a passar por crianças, começam uma conversinha, todo mundo tem webcam, e eles começam pedindo para a criança começar a fazer isso, aquilo… Passando isso para outra criança, que faz… E eles filmam, vendem, ou compartilham isso, sendo que eles acumulam pontos com isso”, explica o delegado, dizendo que os abusadores costumam fazer ameaças às crianças, dizendo que se elas não continuarem, ele mostrarão tudo para os pais.
“A criança não reage, ela se sente culpada por aquilo”, diz o delegado ao relatar os métodos de coação adotados pelos criminosos. “Recentemente teve um caso de um professor de artes marciais que sodomizava vários guris (…) ele falava que ia bater nos pais se alguém contasse, e tem meninos que até hoje que estão passando por tratamento psicológico”, relata França.
Um dos relatos mais aterrorizantes foi o caso de um homem preso na operação Darknet que relatava que tinha a intenção de abusar da filha quando ela nascesse. “Ele deixava claro, por onde andava, (que iria abusar da filha) e nós fomos a campo e encontramos a mulher dele grávida”, afirma o delegado. Entre os presos estavam ainda um seminarista e um servidor público.