Semana de Luta Antimanicomial começou na praça
Um abraço na Praça 9 de Novembro marcou o início da Semana de Luta Antimanicomial, promovida pela Prefeitura de Vitória da Conquista, por meio da Coordenação de Saúde Mental da Secretaria Municipal de Saúde, composta pelos Centros de Atenção Psicossocial (Caps II, Caps IA, Caps AD). O evento acontece nos dia 16, 17 e 18 de maio.
Com o tema “Luta pelo direito de ser cidadão”, usuários, familiares e profissionais de saúde organizaram uma programação com o propósito de dar visibilidade ao problema do sofrimento mental, que pode acometer crianças, adolescentes e adultos dependentes de substâncias psicoativas ou não. O intuito é também informar para comunidade como funciona a rede de saúde mental do município
Para a coordenadora de Saúde Mental, Tarcísia Castro Alves, a maior conquista da Luta Antimanicomial foi trazer os usuários para comunidade. “O propósito é não excluir, e sim incluir”. Hoje, a Prefeitura tem como seu maior desafio, após a implantação do Caps IA, fazer com que os serviços de saúde mental funcionem em rede, “para tratar os pacientes do Caps não só no serviço especializado, mas em toda rede de saúde”, explica Tarcísia.
Com a apresentação na praça, na manhã dessa quarta-feira, a comunidade pôde conhecer de perto como funciona o serviço e fazer uma avaliação de saúde com as equipes dos três Caps. Com aproximadamente 230 pacientes em tratamento, o Caps II atende pessoas maiores de 18 anos, com algum tipo de sofrimento mental; já, o Caps AD, uma média de 250 pessoas maiores de 18 anos com algum tipo de dependência a substâncias psicoativas (cigarros, álcool, crack,etc.)
O Caps IA já atendeu, desde a sua implantação, em dezembro do ano passado, 218 pessoas menores de 18 anos com alguns tipos de sofrimento mental.
Usuária do Caps II, desde 2004, Maria Angêlica de Fátima falou sobre a importância da Luta Antimanicomial. “Acho que ainda falta muita coisa. No último dia vou vestir preto, porque o preconceito ainda é muito forte, ele está dentro de nossa casa, nos acompanha nas ruas, nas instituições. Você sente como se nadasse, nadasse e morresse na praia, mas eu acredito que as coisas estão mudando”.
Já Antônio Lima, 57, está participando do grupo de tabagismo do Caps AD há trinta dias e conta que já parou de fumar.“Sozinho eu não conseguiria largar o cigarro, então eu busquei ajuda, porque eu estava prejudicando minha família com a fumaça do cigarro e a mim mesmo. Consegui parar com a ajuda do Caps, mas foi muito difícil, porque eu tive uma abstinência muito forte, mas fui socorrido, não pretendo nunca mais fumar, estou bem. O tratamento do Caps é ótimo, hoje eu sou um multiplicador dessa ideia”.
Maria Freire, mãe de uma paciente do Caps IA, falou da sua luta antes da implantação do serviço. “Descobri que a minha filha tinha psicose infantil quando a coloquei na escola e ela não conseguiu ficar. Passei por muita dificuldade, porque na cidade não tinha tratamento. Só agora que eu consegui ir para o Caps Infantil. Agora não tenho mais problema com consulta médica, a equipe é muito boa, me apoia muito, já consegui matricular minha filha na escola de novo, está melhorando bastante.
A Associação dos Usuários, Familiares e Amigos da Saúde Mental de Vitória da Conquista, fundada em 2008, também está participando das atividades do evento. Para Maria Eliza Guimarães, usuária do Caps II e presidente da Associação, o maior o objetivo do movimento é fortalecer os Caps e a criação de mais serviços, para que não volte a ter no Brasil os manicômios. “A associação existe para fazer uma ponte entre usuários e serviço, pois é muito mais fácil falar para aquele que você se identifica do que com as instituições”. Eliza fala porque ainda existe o preconceito: “A dor do portador de saúde mental é a dor da alma, por isso as pessoas não entendem, não aceitam.
A programação continuou nesta quinta-feira, 17, com a mesa redonda: “Discutindo as Transversões – Cuidando da Saúde Mental”, às 14h, no Centro de Convivência do Idoso. Na sexta-feira, 18, acontece o encerramento com a atividade “Caps Fechando o Beco”, das 9h às 17h, na Travessa Zulmiro Nunes, Centro.