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Serasa traça perfil inédito dos microempreendedores individuais

Brasil tem cerca de 6 milhões de MEIs, sendo mais da metade no Sudeste. Estudo mostra que as dificuldades estão no acesso ao crédito, falta de tempo e separação das finanças pessoais e profissionais

Estudo inédito da Serasa Experian traz um retrato demográfico dos seis milhões de Microempreendedores Individuais (MEIs) brasileiros. O estudo teve como objetivo identificar padrões de comportamento desses empreendedores. Para isso, foram realizadas uma série de entrevistas com 450 MEIs selecionados dos segmentos de comércio e serviços, com homens e mulheres entre 19 e 57 anos, em diversas cidades do país.

Os resultados apontaram que esses gestores buscam, principalmente, independência financeira, crescimento profissional, satisfação pessoal, menor carga horária de trabalho e proximidade da família. “Além disso, a necessidade de sobrevivência, diante das altas taxas de desemprego, levou muitos brasileiros a terem seu próprio negócio”, diz o vice-presidente de Pessoa Jurídica da Serasa Experian, Victor Loyola. A facilidade no processo de abertura de uma empresa como MEI e a baixa carga tributária também foram apontados como estímulo para a escolha.

Os MEIs são a natureza jurídica que mais cresce no país. De acordo com o Indicador Serasa Experian de Nascimento de Empresas, em sete anos, passaram de menos da metade dos novos empreendimentos (48,9% do total, em 2010) para 78,4% no último levantamento, em 2016. O número de novos Microempreendedores Individuais nascidos em 2016 foi de 1.548.950 contra 1.491.485 em 2015, alta de 3,9%. O indicador aponta que 51% dos microempreendedores individuais estão no Sudeste, 20% no Nordeste, 15% no Sul, 9% no Centro-Oeste e 5% no Norte do país. Em termos estaduais, a distribuição dos MEIs é 25,5% estão em São Paulo, 12,2% no Rio de Janeiro, 11% em Minas Gerais, 6,2% na Bahia e 5,8% no Rio Grande do Sul.

O estudo identificou quatro perfis que definem o microempreendedor individual:

 

Ø  Arrojado: trata-se de um empreendedor “nato”, que vive de olho nas tendências do mercado e as segue, assumindo mais riscos. As frustrações, acumuladas em parte pelo seu jeito destemido de agir, o tornaram melhor preparados ao longo do tempo. O sucesso financeiro é sua motivação e, para alcançá-lo, sempre trabalha com um plano B. O objetivo do MEI Arrojado é ser um grande empresário de sucesso.

Exemplo: Fábio já sabia qual seria seu negócio há tempos, mas estava aguardando o momento ideal para começar. Assim que iniciou as atividades, formalizou a empresa como MEI, depois de certificar-se de que essa era a melhor solução fiscal. Acreditar na necessidade de constante atualização, mas tem dificuldade de implanta-las no seu dia-a-dia.

 

Ø  Realizador: é um empreendedor de uma ideia, da qual tem muito orgulho. Seu negócio é estruturado e dotado de visão, é fruto de pesquisa e dedicação. Para ter segurança no que faz, investe em cursos e pesquisa. A motivação do Realizador é buscar diferenciais para o negócio, o que lhe traz grande realização pessoal. O objetivo deste tipo de MEI é crescer de forma estruturada e sustentável.

Exemplo: Sandra investiu bastante no planejamento de sua empresa, realizando, inclusive, testes prévios. Buscar orientação para conduzir seu negócios e adquirir conhecimentos fundamentais para o sucesso. Ela também decidiu formalizar-se como MEI desde o início de suas atividades.

 

Ø  Malabarista: para este arquétipo, empreender não era um plano, mas aconteceu. Ele não se preparou muito para o negócio e o dia a dia é a sua verdadeira escola. É com muito otimismo que o MEI Malabarista contorna as dificuldades. Para os microempreendedores enquadrados aqui, a motivação reside na qualidade da entrega do serviço/produto. Para atender bem, sacrifica seu tempo e até mesmo relaxa nas outras atividades. O desafio é terminar o mês no azul e começar o outro um pouco melhor.

Exemplo: Jaqueline tomou a decisão de empreender quando surgiu a necessidade de gerar renda de maneira autônoma. Ao contrário dos arquétipos anteriores, ela só procedeu a formalização como MEI quando seus clientes passaram a pedir nota fiscal. O controle do fluxo de caixa e de materiais é um grande desafio: feito no “olho” e com anotações no caderninho.

 

Ø  Tranquilo: Ele é um autônomo que tornou-se MEI para legalizar sua atividade, garantir benefícios e atender as exigências das empresas para quais presta serviços. Esse indivíduo até pensa em estruturar o negócio, mas não tem pressa e nem motivações para isso. Seu único objetivo é manter seus clientes e garantir a renda mensal.

Exemplo: João sempre trabalhou por conta própria, prestando serviços a terceiros, de maneira informal. Mas seus clientes passaram a exigir nota fiscal para o pagamento. Motivado pela necessidade de manter sua carteira, encontrou no MEI uma maneira de formalizar-se, sem muitos gastos extras.

 

Características do MEI – Entre os pontos em comum do microempreendedor individual, os entrevistados relataram um frio na barriga na hora de empreender, mas também um sentimento de felicidade e realização ao colocarem os projetos em prática.

Em termos de organização do negócio, outro ponto convergente é o amadorismo técnico na gestão. “Os MEIs declararam que ainda fazem o controle de entradas e saídas de caixa ou de materiais em cadernos físicos, sendo que, por vezes, essas anotações vão para o computador”, relata Loyola. “A justificativa é que a máquina pode dar problema.” Nota-se, portanto, que a gestão dos MEIs não é automatizada.

Parte dos entrevistados também relatou que delega o controle do fluxo de caixa a terceiros (esposa/marido, amigos, contador) ou até mesmo não têm nenhum tipo de controle.

Principais dificuldades – O estudo identificou que os MEIs têm dificuldade de acesso a financiamentos: 91% não conseguem linhas de crédito. Para contornar, acabam recorrendo ao crédito pessoal ou ainda pedem empréstimos a familiares e amigos.

A falta de tempo também foi referida pelos entrevistados como um percalço. “Tempo é considerado artigo de luxo para os empreendedores dessa área”, diz Loyola “Entre operacionalizar o negócio, cuidar da parte financeira e fazer a divulgação, as duas últimas tarefas acabam sendo deixadas em segundo plano.”

As entrevistas captaram uma grande dificuldade de conciliar vida pessoal e empreendedorismo. Grande parte dos MEIs acaba não conseguindo separar canais como:

• Facebook – às vezes a empresa tem sua própria Fanpage, mas, na grande maioria das vezes, é acessada com a mesma conta do email pessoal.

• WhatsApp – mensagens profissionais e pessoais se misturam na mesma conta e a imagem de perfil, na maioria das vezes, retrata a vida pessoal do microempreendedor.

• Conta Corrente – a separação das contas correntes é um dos primeiros indícios de maturidade empresarial, mas isso não é a realidade para a maioria desses microempresários.

Outra dificuldade verificada na pesquisa é sobre os fornecedores, cuja busca e manutenção ainda é pouco estruturada. Boa parte dos entrevistados relata usar ferramentas de busca da internet para encontrar esses parceiros. Nenhum dos entrevistados possui cadastro organizado de fornecedores. “E a ideia de que é muito difícil encontrar bons fornecedores é quase unanimidade.”

Segundo Loyola, quando se considera as aspirações da maioria desses gestores – 77% têm como objetivo crescer – a falta de gestão administrativa profissional pode ser um entrave.

Divulgação – O uso de soluções mais avançadas de divulgação é reduzido entre os MEIs. A pesquisa revelou que poucos usuários investem em site próprio, e-mail marketing ou campanhas digitais direcionadas, apesar de muitos mencionarem interesse nessas ferramentas. A propaganda boca a boca continua sendo eficaz para este público, que também aposta em panfletagem para uma exposição inicial. As redes sociais são utilizadas em larga escala para manter contato com os clientes.

MEI – A categoria jurídica compreendida como MEI é uma empresa individual, sem sócios, cujo faturamento anual não pode ultrapassar R$ 60 mil. Não é permitido ter uma segunda empresa em seu nome nem participar de outra como sócio ou administrador. O microempreendedor individual pode ter um empregado contratado, que receba o salário mínimo ou o piso da categoria.

O MEI é registrado no Cadastro Nacional de Pessoas Jurídicas (CNPJ), permitindo a emissão de notas fiscais. Também é enquadrado no Simples Nacional e fica isento dos tributos federais (Imposto de Renda, PIS, Cofins, IPI e CSLL), pagando o valor fixo mensal de R$ 47,85 (comércio ou indústria), R$ 51,85 (prestação de serviços) ou R$ 52,85 (comércio e serviços), que será destinado à Previdência Social e ao ICMS ou ao ISS. Esses valores são atualizados de acordo com o salário mínimo. As contribuições possibilitam o acesso a benefícios como auxílio maternidade, auxílio doença e aposentadoria.

Metodologia – Para a realização do estudo sobre o microempreendedor individual, cujo objetivo era entender as principais motivações e dificuldades dos MEIs, assim como investigar produtos e ferramentas que ajudam em suas gestões, a Serasa Experian ouviu mais de 450 empresários da categoria MEI, com entrevistas qualitativas e quantitativas, de 19 a 57 anos, com atividades enquadradas predominantemente em comércio e serviços. 

 

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