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Sobre o recrudescimento da violência

Por G. C. Britto (engo civil e sanitarista) gutembergcbritto@gmail.com

Todos os países, pobres e ricos, civilizados ou não, estão inseridos num mundo que vem, progressivamente, se integrando. Tudo isso originado pela facilidade de circulação das riquezas produzidas por eles. Esse fenômeno está trazendo, implicitamente, a modificação dos conceitos de fronteiras  econômicas e culturais. Entre as riquezas produzidas pelos países estão as armas e as drogas, das quais só nos interessam aqui as negociadas clandestinamente. Sem o dinheiro advindo delas, grande parte dos bancos , no mundo, iriam à falência, por falta de lavagem do dinheiro proveniente desse comércio ilegal.  O capitalismo produz riquezas e desvirtuamentos, também.

Nós somos hipócritas por conveniência. Admitimos umas coisas, outras, não. Observem o caso do álcool, que é uma droga. Encontra-se no vinho, conhaque, espumantes, vodca, gin, whisky, cerveja, tequila, saquê etc. São produtos descriminalizados, postos em  comercialização, livremente. As leis o permitem, pois o álcool tem pedigree. É produzido e vendido, desde há muito tempo, pelos países ricos. Da mesma maneira, o tabaco. Os dois, álcool e o tabaco, fazem mal à saúde, porque, além dos danos provocados ao organismo, podem causar dependência química. Então, por que não descriminalizar as outras drogas, também? Cocaína, heroína, maconha etc, não têm pedigree, pois são produzidos por países pobres. Além do mais, o que é raro é caro. Se descriminalizar essas drogas, o preço delas vai cair no mercado. Adeus bancos e enriquecimento ilícito! Deduz-se que tudo isso é por pura conveniência. Os que usufruem com o comércio das drogas pouco se importam com o mal que elas geram para a sociedade, com violência e mortes.

Falou-se até aqui da logística da violência. A origem dela é mais complexa. Envolve componentes subjetivos,  emocionais e culturais. Porém, os ingredientes mais concretos, mais comuns e abrangentes, estão implícitos no nosso sistema sócio econômico. O capitalismo faz gerar riquezas, mas, o seu grande contraditório reside na distribuição das mesmas. Daí, a origem da desigualdade social, fator determinante da violência. Somente com o desenvolvimento da sociedade, em todas as áreas, é que se poderá assegurar uma tolerável convivência social. Há países no mundo que já alcançaram esse patamar de civilidade.

A violência é um fenômeno intrínseco da nossa sociedade. Não é do âmbito da polícia resolvê-lo, como queria o nosso desastrado Presidente Washington Luís. Compete ao Estado desenvolver ações políticas regulares voltadas para a inclusão social. Concomitantemente, deve-se proteger a sociedade contra os que não se submetem às leis. Como fenômeno social, merece a violência ser estudada em profundidade. Em primeiro plano, deve-se investigar os beneficiários dela, aqueles que não sujam as mãos com sangue, mas que ficam cada vez mais ricos. Pode-se assegurar que os pobres e muitos policiais são usados como instrumentos por esses beneficiários, que são ricos, evidentemente. Eles financiam a violência com a compra de armas e drogas. Os produtores de armas e drogas fecham o ciclo da violência. Conclui-se do exposto, que a violência é um grande e próspero negócio. Nada acontece por acaso. Daí, o recrudescimento dessa grande tragédia.

Sabendo as causas da violência, podem os governos federal e estaduais adotar as providências para controlá-la. Cabe ao governo federal, através da polícia federal e ministério público, identificar os ricos financiadores de aquisições de armas e drogas, processá-los e trancafiá-los. Aos governos estaduais competem as ações táticas de controlar a comercialização, enquanto vigorar a criminalidade delas.